domingo, 24 de fevereiro de 2008

Ato Contínuo

Acordados, sem pestanejar:
A luz é um farol apagado,
No quarto meio desarrumado;

Puxando o cobertor
- Que serve como um manto -
Pra cobrir o corpo santo;

Dobrando o travesseiro
- Que serve como um altar -
Deitar a cabeça sem pesar;

É curioso, mas já podemos crer:
Não há um mísero coração
Que não possa ser libertado,
Ainda que tenha parado de bater;

E não há um meio-termo,
A vida já vai indo ao meio:
Nós andamos de mãos dadas,
Entre choros e gargalhadas;

Mas é tão bom ver você aqui;
Mas é tão bom ter você aqui;
Eu me sinto bem com você aqui;
Ponto De Fuga

Quantas garrafas vazias:

Há alguém pra se ocupar
Do vazio no fundo desta taça?

É um conto de infância:
O que foi que construiu ali
O herói do teu romance?

Será que você almeja
Alguma coisa mais profunda?
O que era tosco agora é arte:
Estou vencido, e eu não minto;

Vejo monstros no escuro,
E ninguém pra me jurar
Que passou, se nunca passa;

É um filme de suspense,
Nada sei mais do que isso,
Está fora de alcance;

Será que é provável
Uma nova aventura,
Pra que estejas mais serena,
E não menos tão contente?

Quem vai matar tua saudade,
Quem vai fazer cicatrizar?
Eu vivo cheio de lembranças;

Mas, que não te surpreenda
Se teu coração parecer aliviado;
Save Our Souls

Todo pássaro constrói
O seu próprio ninho;
E toda esperança
É a fé mais natural;

E toda rosa que têm,
Suporta o seu espinho;
Que são só espinhos,
Não um vil veneno mortal;

Ninguém entende
- Bendito seja o fruto proibido -
Solidão que some, mas tudo bem:
Ninguém entende
- Usas sem pena o furto cometido -

Deixa pra lá:
Levantar âncora, vamos zarpar;
Deixa pra lá:
Velas ao vento, vamos navegar;

Não é nenhum fim do mundo;
Foi assim: amei, amamos,
E nos perdemos;
E eu vou buscar, eu vou procurar,
Ainda que afundemos;

E se não foi o melhor final,
O final feliz, quando der, virá:
Virá cuidar, e nos sustentará;
Virá cuidar, e por nós ele olhará;
La Belle Dame

Quem leu a tua sorte
Não viu o teu pesar,
Nada viu no teu olhar;
Não ligue ao menor rumor:
Tudo restará tão certo,
Não há como evitar;

E assim mais fácil vem
O que não era antes do tempo;
No tempo que é tempo dono
Do amar que é amor
A incorrer em provação;

Estamos aptos a descrever
Nossos primeiros atos:
O melhor feito é algo limitado
Se nos damos por satisfeitos;

E um só dia em tua vida
Não é o bastante pra entender:
Ao que triunfa teu instinto,
Da batalha é a maior vitória;

Mas em qual parte da história,
Em tudo, o tanto que foi mal,
É história curta que, tão rápida,
Muito rápido, tem final?

E mesmo que não possa ser,
Você pode imaginar,
Entre nós, um plano sem igual?

Eu tento, e eu me esforço:
Eu posso quase ouvir
O teu coração bem mais tranquilo;

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Juliette

Olha, já é outro aniversário:
Me distraia com tuas andanças,
Que sou todo ouvidos e atenção:


Eu quero saber, quero aprender,
A teu respeito, das tuas mudanças;

Do que te trouxe ao presente,
Do que me trazes de presente,
Pra nossa restaurada geração:

Que um dia quase se partiu,
Sem mesmo ter ido ao chão;

E parece que foi ontem,
E parece que não passou:
Quase tudo é tão efêmero,
Que quando vemos...Acabou;

Mas sei que sempre tem
Um admirável mundo novo
- Em construção -

A fome é alarme
- Que contém a qualquer hora -
O banquete requintado
- Que convém à intenção -

O desdém e a piedade
- De quem tudo ignora -
Ao Que Vai Chegar...

O vazio destas doces almas
- Doces almas que nos cercam
-
É crepúsculo, é apelo e artifício;
Auto-estrada, placas e indícios;

Sinto...Não há pista mais segura
Do que vem de dentro para fora:
Um enigma em métrica e rima,
No olhar daquela bela menina;

Ela traz na retina, rebuscado,
O rubor, a causa e o efeito:
Um retrato-falado, rabiscado,
Do eleito, o cúmplice perfeito;

Mas onde quer que esteja,
Qualquer ponto, quando muito,
É costume, é aspecto e objeto;
É apenas a metade do trajeto;

E mesmo espalhados por aí,
Todos que por nós torceram,
Batendo palmas de aprovação,
De braços abertos nos receberão;



Tão Longe...Tão Perto

E pelo chão, os livros que eu li,
Sabe lá o que narram sobre mim;
O que é que tem, pensarei,
Afinal, não é nada demais;

O que você terá além da paixão?
Temos rugas em nossas faces,
Aprenda: o que já foi...Já era;
Aprenda: a vida é sempre bela;

Mas o torto pra quem ama
É sempre o mais correto;
E o avesso pra quem ama
Passa a ser o lado inverso;

Me dê um bom motivo
Que me faça ser tão grato,
Pois pra quem está perdido
Qualquer atalho é o rumo exato;

E no chão os livros que eu li;
Sabe lá o que narrarão sobre nós;
Esquece: o que já foi...Já era;
Esquece: a vida é mesmo bela;



Radionovela

Se qualquer bobagem é asilo;

De qualquer enredo tens o segredo;
Quanto tempo levará pra reaver
Tudo e todos que levou o tempo?

Se qualquer trilha sonora
É o algo mais que te emociona;
Orquestrada, nota por nota, delicada;
Que te toma, subentendido - era amor


Que a memória resgata do pretérito;
Que o coração amplifica o volume:

Temos um belo poema mendigo,
Na roda-viva desta vida;
Verás um mundo menos primitivo,
Na poesia desta vida;

E sobre o palco, a céu aberto,
Tantos brilham tão ingênuos;
Nós temos outras coisas pra fazer:
Da nossa peça, vestígios, experiência;


E quando nos vermos diferentes
De como éramos antigamente,
É um mérito nosso pra dividirmos
Com quem mais conseguiu sobreviver;
Encontros E Desencontros

Por favor, espere;
Espere, apenas um segundo;
O que temos aqui:
O coração se fez independente
Daquilo com que você sonhava?

Por favor, espere:
Se a escolha parece cara,
O que fazer nesse momento?

Quero crer não é uma maldade:
Quando sorrimos por interesse,
É por temor a alguma solidão;
É pelo bem que nos acalma;

É uma nova velha igualdade,
É o que não traz sentido:
O que não tira satisfação;

Tome o que podemos conceber,
E que assim seja, antes do fim;
Que no fim nós ainda somos
Os quilômetros que já andamos;

Eis por que és jovem senhora:
Eu te peço...Vamos recapitular;
Eu peço, vem comigo...Isadora;
Dia Eterno

Estamos caindo...Cuidado;

Corpos em câmera lenta:
As datas congelam o calendário,
Como um relógio quebrado;

Mas ainda tem gente voltando,
Como quem, do nada, vai embora;

Será que você podia considerar
Que foi evento, o tempo esgotado?

Eu me abalo, vendo tudo de novo:
O velho vinil ainda embala
As mesmas madrugadas;

Se era certo, não terá sido errado;
O que era amor, então foi provado:

É que sempre tem gente voltando,
Como quem, do nada, vai indo embora;
Cidade Dos Anjos

Será que é por distração
Ou mesmo falta de carinho;
Um minuto pra variar ainda é pouco;
Eu tive sonhos e milhões de planos:
Ah!...Quem me dera de ti não ter o luto;

Qual foi a tua educação,
Pra não ter medo do perigo;
Um pedido às vezes é tão justo:
Também quisera e talvez tivesse tido;

E você diz: eu te desapontei
- Não me diga o que eu já sei -
Há sempre uma luz acesa
Em cima do que saiu errado;

O que nos fez assim, indiferentes:
Se não há ventura, não há admiração;
É invenção, é lamento, é desventura;
E seja como for, caia logo o impostor:
É perdão sem julgamento, é compostura;

E a gente diz: sim, eu me desapontei
- Não me conte o que eu já sei -
Veja as toalhas novas sobre a mesa:
Isso é vida e amor em bruto estado;
Christine

Você pode duvidar, agora eu sei,
Sei o que digo:
A tarefa que tanto suor toma
É tesouro que tanto fulgor tem;

Não é anormal que eu prometa,
Quem diria:
Muito em breve, em alguns dias,
Seremos carne e sangue...Outra vez;

O grande baile já vai começar:
Antes que acabe - vais lembrar
Bem antes - já éramos um par


Quando era perder e não sofrer,
Era preciso proceder assim:
Se era menos do que ousara ser,
Era mais do que se fosse nada;

Só obedecemos o amor escravo,
O amo e senhor que merecemos;
Qual um diamante a ser lapidado,
Feito engano que se faz enganado;

E aos poucos, tudo é mais constante:
Fora o silêncio, fora a timidez,
Pois muito em breve, em alguns dias,
Nós seremos carne e sangue...Outra vez;
O Primeiro Ano Do Resto De Nossas Vidas

Quando ao dia cair a noite,
Quando a noite já for dia:
Me traga uma novidade,
Uma conversa interessante,
Que de mim não mais se perca;

Na casa grande tão pequena,
Decore quadros tão modernos;
Que nos impressione algo incomum
Nessas nossas vidas em comum;

E confio que te estime
O que ali irá estar;
E mesmo que seja eu
O próximo a partir,
Esta é a última vez
Que diremos adeus
- Num adeus por cima do ombro -
Pra tão logo, juntos novamente;

Este agora é o meu caminho;
O melhor que faço do que posso,
É não esperar por milagres
Que não passam de abismos;

Este agora é o meu caminho;
E pelos becos os fantasmas
Perdem a forma e se calam;

E um dia, enfim, te entregarei,
Num bilhete, a minha confissão:
Agiu com fé o meu coração;
Os Sonhadores

Há tantos riscos em tantos risos
Que esta sede que não sacias

Vem dos beijos que se perdem
Do que era todo e hoje é parte;

E se eu não digo o que penso
Você não crê que eu não minta;
A que eu não toque o que tentas,
Você não sabe como eu me sinto;

Que eu sou aquilo que invento,
Pra que sirva a meus propósitos
Os teus delírios mais intensos;

Eu quero ir além do que sei agora,
Me leva pra dentro do teu jardim:
Não sai de mim o vir e não ir embora,
E a toda hora, lembrar que fui feliz;

Me tira de perto do meu temporal:
Não leve a mal o ser que então vigora,
E a toda hora aceitar que sou feliz;
Factory Girl

Quem te chama pelo nome
Sabe mesmo quem é você,
Sabe mesmo o que não quer,
Tudo o que você precisa ter?

O que te espera por prazer,
Mente mesmo sem pensar,
Mente mesmo só pra ter
Tudo o que você poderia ser?

E aonde é que você mora?
Eu só queria te mostrar:
Da janela dá pra ver a rua,
E a vida tal como ela é;

E aonde é que você mora?
Eu só queria te dizer:
Da janela dá pra ver o sol,
E o mundo tal como se fez;

Eu sei que você se sente
Como o último dos mortais,
Mas quantos não são iguais;
Será que você é diferente?

Todo mundo sofre um dia,
Um dia, todo mundo cai,
E do chão, tão longe do céu,
Você não sente tudo que vem;

E quem de ti acerta o nome,
Sabe mesmo o que mais queres,
E tudo o que você merece ter;
Sete Dias, Sete Noites

Sei, ainda há tempo,
Já nem sei direito
:
Quem me deu um templo,
Dele fez quase ruínas;

Mas você não faz idéia
Do quanto custa prevenir,
Do quanto custa reerguer;

Até onde vai teu bem-querer,
Quando encontra o mal-estar
De quem sente na boca o gosto
Dos beijos de arame farpado?

Eu pensei que ia parar,
Eu pensei em não pensar;
Por estar livre outra vez,
Eu pensei não mais precisar;

E aí vem você pra me dizer
Que eu entendi tudo errado:
Mais vale a dor de um tolo amor,
Do que nada ter pra se viver;
A Divina Comédia

Eu conto histórias de nenhuma glória:
Nos vitrais d'uma igreja abandonada,
Cruzadas, guerras santas perdidas;
Despedidas demais, virtudes adiadas;

E enquanto houver o abandono,
O cansaço vai dobrar os joelhos
Na areia quente do campo fértil,
Onde teu coração é pleno e dono;

E por preces, o deserto,
É um oásis no meio do nada;
E por drama, manteremos
O silêncio mais perverso;

À velocidade destes dias insensatos
Nós não estaremos imunes:
Com um outro rosto, um outro corpo,
Nós não passaremos impunes;

Tantas idas e vindas não é maldição:
É tão nobre, minha cara consorte,
Que nos descaminhos do coração
Há de tudo, menos o rio da morte;

E da lama, o lodo,
É de barro transparente;
E de pedra, pisaremos
O tapete mais macio;

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Heloise

Ela disse pra quem quisesse,
Pra quem quisesse ouvir:
Não vou mais chorar,
Não vou mais mentir;

O mundo é perigoso, eu sei,
Mas vou encarar a estrada,
Vou recuar os limites da razão;

E ela vai andar,
E ela vai sorrir,
De um jeito que ninguém
Vai resistir;

Ela disse: aqui estou,
Aqui, eu preciso estar;

Estas são as tuas regras,
Estas são as tuas leis;
O leme que conduz o teu navio,
O lema que defende o teu país;

E da traição, a gêmea lealdade:
Eu vou ganhar, e eu vou roubar,
O que é meu, a minha sanidade;

E ela vai seguir,
E ela vai topar,
Com certezas que ninguém
Vai desmanchar;

E ela disse: é, aqui estou,
Mas, um dia, eu vou voltar;

domingo, 17 de fevereiro de 2008

A Dama E O Vagabundo

E se eu corro sem parar,
Aonde quer que eu possa ir
Eu me vejo sempre longe,
Onde quer que eu possa estar;

Mas quem por mim cruzar,
Até me pedirá pra devolver
O que eu levei de ti;
Mas cadê, onde é que está?

Às vezes eu me atrapalho,
Mas o amanhã virá,
Outros amanhãs virão:
Será de novo Carnaval;

Às vezes eu me atrapalho,
São coisas da vida,
A vida tem dessas coisas:
Um desfecho sem final;

Temos que reaprender a sonhar,
E você parece não persistir:
É tão mais barato desistir,
Do que perder sem arriscar;

Mas quem de ti, aproximar,
Não te entende por querer
O que eu deixei de mim;
Mas cadê, onde é que está?






Museu De Cera

Não tente escapar,
Você não conseguirá:
A tua metade
É a parte que te cabe;
Alguns acertos graduais
Não vão te colocar
Acima de qualquer suspeita;
Acima de qualquer dificuldade;

Estamos sujeitos a não
Perceber direito
O que há de surreal no que
Beira a perfeição
- Nos vemos tão pouco -
Temos um teto, temos um leito,
O que nos causa confusão;

Um pouco é só memória
Do que se pode ou não cumprir;
O resto é esquecimento,
Quando se tem a quem culpar;

Não tente renegar
O que trazes contigo;
Que pulsa no teu ventre
O que é desterro e abrigo;
Cedo ou tarde você vai ter
Que declarar:
E é você quem aprova
O que vai ou não vingar;
Intransitivo

Você é os versos que eu invento,
É tudo o que eu manifestei:
É presente, é passado, é futuro
- Sonoras máquinas do tempo -

Será a minha pretensão
Um náufrago urbano em solidão,
Uma mensagem na garrafa,
Que não te fere e te alegrará?

Nunca é tarde pra saber,
Do querer, o que é anistiar;
Nunca é tarde pra saber,
Do viver o que é amar;

Digo o verbo nos três tempos,
Do pouco que já aprendi:
É presente, é passado, é futuro
- Em belas máquinas do tempo -

Seja a minha pretensão
A conversa mantida sem cansar;
A cada passo, um toque de classe:

Quase um passo pra eternidade;

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Love Song

Eu queria escrever
uma canção,
Só pra te fazer invejar,
Só pra te fazer acreditar,
Que pra cada ação...Uma reação;

Como o vendedor na Sexta-feira,
Com suas bancas tão sortidas,
Como o vendedor...Ali na feira:

Eu fui capaz de transformar
Pesado chumbo em fino ouro;
A água suja em tinto vinho;
O vago, em algo mais duradouro;

E um cego amor à luz do dia
- Nada mais que uma dor vazia -
Seguia uma outra estrela-guia;

E assim tentaria não podar
As pessoas que nos conhecem;
Pra quem foram se entregar
As pessoas que nos esquecem?

Mas eu não sei como fazer
- Eu dancei com o que não devia -
E agora, é tanto fez...Tanto faz:

Se hoje é mais um dia cinza,
Ou só um louco dia de alegria;
Esquinas

Nos divertimos muito até agora
E é eterno embora pouco dure;
O sinal está aberto - a chamar

São duas ordens e uma chance,
Em intervalos bem definidos:
Olhe...Vá em frente se for tua vontade;
Mas não pare...Se não dá mais pra ficar;

Mas aqui e agora
Você será feliz pra sempre;
Este é o sentido de tudo:
Ontem, amanhã ou depois
- Ou mesmo quando vamos embora -

E todo dia a alegria se oferece,
Mas me empresta a tua coragem:
Eu vou lutar, eu vou conseguir,
Mas não me vejo lá sozinho;

Nos divertimos muito até agora,
E é eterno embora pouco dure;
O sinal está aberto - a esperar

Que não deixemos como rastro
Tantas mágoas e desgostos
Pra quem chegar aqui depois,
Com sorrisos em seus rostos;
Redenção

Sem sapatos,
Muito tenho pra andar;
Pés descalços,
Tenho sede de beber;
Sem sapatos,
Longe é a Terra Prometida,
Quem vai me acompanhar?

Algumas vezes sim,
Outras vezes não,
E se eu insisto,
Acabo por me certificar:
Nada pode nos conformar;

Mas quem sou eu pra adivinhar
Quantos dias costuram uma vida,
E o que nos espera lá na frente?

Lá fora chove
- Chuva mansa, vendaval -
É só a natureza,
Encenando seu papel;

E toda desatenção
É uma vaidade infiel:
É hora de perseguir
A hora de ser feliz;

E quem decide por ficar,
Já não pode impedir;
E quem não pode te seguir,
Não irá te condenar;
Desertos Chuvosos

Não tem mesmo outro jeito,
A armadilha segue armada;
Eu também já fui inconseqüente:
Num simples gesto teu,
És realmente o que você sente;

É quimera - folhas secas de Outono
O prestígio aquém de tais desejos;
É mito - há muito mais pra realizar
Do que alguém diz nos pertencer,
Com o que alguém quis nos controlar;
Agora é hora de rir de tudo isso,
É a hora do nosso compromisso;

O bem-estar é febre que entorpece:
Da garganta um grito limpo abafa
O silêncio que quer falar mais alto;

Se teu ardor não cair em falsidade,
Não é teu amor novo, oferta ou usado;
No que se perdeu, ainda há dignidade,
E o que se ganhou é personalidade:
É paraíso, é meu e teu caminho cruzado;
É tumulto que antecede a felicidade;

E isso, eu reconheceria sem pestanejar:
Pois incendeiam com os meus,
Teus belos olhos tristonhos;

E não tem mesmo outro jeito:
Num simples gesto teu,
És realmente o que você sente;
So Long, Sarah!

Aqui, neste lugar, bem-aventurados,
Os anjos vigilantes
e os vencidos,
Que nos deram dentro deste mundo
Um imenso ponto de interrogação;

E naquelas janelas embaçadas,
Está o que será um dia a pergunta
Que ao pó é que terá de ser feita:
As iniciais feitas a duas mãos;

O imperfeito é o perfeito arriscado:
Pro esboço virar fato consumado,
O planejado tem que ser terminado,
Que o perfeito é o imperfeito melhorado;

Tem vezes em que nada se resolve;
Que a equação no quadro-negro
É uma lição complexa demais;
Que um mais um não somam dois;

Mas é só de vez em quando;
Pois acima de todas as coisas,
Existe uma teoria mais sensata:

Pro lado esquerdo do teu peito,
Há uma modesta recompensa,
Um remédio sem sabor ruim;

Que exalará o teu perfume preferido;
E tem o mesmo gosto de que gostas;



Travessia

Que os anos passem
- Tudo passará -
Imagens na minha mente
É saudade dessa gente;

Aonde foram todos?
Estão logo ali,
Todos bem:
Felizes felizardos, bem guardados,
Na estante, nos porta-retratos;

Atrás dos olhos, outras gentes,
- Outros mundos -
Vem mostrar:
De zero a cem, me diz,
Que pressa tem?

E quem vem na contramão,
Eu sei então:
São sempre as mesmas falhas,
- Tão iguais -
Que os ataca e os devora,
Nessa hora;

E a todo crime, ao grande crime,
Da pena capital,
Devemos ter por compaixão,
A absolvição
;
Céus De Setembro

A tua busca acabará, terá um fim,
E teus olhos cerrados se abrirão,
Nas horas primeiras, num alvorecer:
Será na Primavera, será um dia bom;

O medo é uma desculpa aceitável;
A conveniência é o pecado original;
Por que você não pára e pensa:
Por que as coisas estão assim;
Pois tem que haver uma saída
Ao que nos foge e se repetirá;

Todos os dias que sumiram
Doam aos dias sem prisão,
Nas flores de qualquer jardim
- Como as orquídeas e jasmins -
A cura para todo coração;

Mas até lá e até então,
A lanterna que iluminará
Os dias sombrios, a escuridão,
Seja quem for será naquele instante,
O teu norte, teu mestre e teu amor;
Teu melhor amigo, teu grande irmão;
O Velho E O Mar

Na linha do horizonte
Está a fronteira final:
A juventude é poeira no tempo;
Uma sereia de promessas tantas;

Mas no meio do oceano
- Pra nadar à outra margem -
A distância é longa demais:
Da tua lenda, qual teu personagem?

As ondas têm o peito aberto
Como se fosse um pranto,
Por chegarem muito perto,
E perderem o seu encanto;

Mas de qualquer maneira,
Era a sério aquele “eu te amo”
Ou terá sido um ledo engano?

No sol do horizonte,
Na saída do inferno,
Soberano nasça o teu melhor
E o teu desejo mais etéreo;

E os que antes retornaram,
Com sabedoria nos contemplam:
E se a ti...Eles contestam,
Será...Serão todos sinceros;

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Sophie’s Song

Se cada vez parece ser a última,
Os olhos vazios de uma máscara

São alheios a qualquer promessa
Quando não há ninguém que nos leve
A não ser o nosso anseio por chegar;

O que vem a ser grata proteção,
Algo que me traga mais prudência
Ao que me surge mais formoso?
Mas de mim você é mesmo sem igual
Pois parece ter tudo o que me falta;

Vamos lá, bem aqui, vamos conversar:
Sobre tudo, sobre nada, que nada sei,
Sobre o que eu não posso responder;

Vamos lá, vem aqui, vamos dialogar:
Sobre tudo, sobre nada, que nada sei,
Sobre o que em ti eu posso perceber;

A vida é mesmo um grande desengano,
O que eu não diria ao te encontrar na rua:
A felicidade é só o minuto que se sente,
O passado vem logo no segundo seguinte;

E o que nos resta é um terno desespero,
Porque tudo, mudo, transforma essa vida:
Que se faz um vírus vago de ironia e dor,
Que nos traz uma velha canção de amor;
Pra Ver O Sol

Não foi por acidente:
À meia-luz da tua vontade,
Tão repleta de esperanças,
Eis a terra das mil danças;

E se a nós, inconscientes,
Fosse tudo o que tivéssemos,
Só com isso dá pra despedaçar
O coração mais inteligente;

E o que dele fora atingido,
Pra sempre será o amparo
Que na gente, nunca passará;

Eu sinto muito:
De costas para o passado,
Ninguém é dono do futuro
- E por mais que a gente tente -

Eu sinto muito, é engraçado,
Eu sinto muito é relevante,
Nos vemos sempre em apuros;

Mas como pode não preocupar,
Se cada vez vem mais depressa?
O que é que vai nos converter,
O que é que vem a ser palidez?

Mas como pode não consumir,
Um silêncio feito de palavras
Em cartas no fundo da gaveta?
Mundo

Em todo e qualquer canto,
A estação, o trem, a esperança
:
É um ponto de partida
Pra cada um a que se chega;

Tem gente pra todo lado,
E pessoas que se importam:
É um ponto de chegada
Pra cada um de que se parte;

Nunca foi o final da linha,
É só a próxima parada;
Não se incomode se atrasa:
Bandeira branca, firme rendição,
Uma trégua, inimigos por irmãos;

Isto é mesmo um problema
Ou apenas um grande desafio?
Será que vence o sacrifício,
Sete salvas de canhão?

Isto é mesmo uma disputa,
Já que a vida é muito curta?
Será que vence o orgulho,
Sete palmos sob o chão?
Monólogo

Não é mais brincadeira:
É questão de ideais,
Ou talvez monotonia?
Muitas tolices se constroem
Por estupidez e presunção;

Não há motivos pra me livrar:
Se ao menos eu pudesse
Tocar teu rosto outra vez;
Eu tive chance, eu tive prêmio,
Mas não quis rezar, só quis colher;

Meu dia a dia está disperso,
E mesmo o teu não é consenso;
Que nos cause espanto e surpresa:
Sem sol, o corpo queima lentamente;

Amar é urgência, amar é colisão,
E daí em diante, é qual refúgio;
Seja esta a grande verdade
Que nós temos de enfrentar
Pra encurtar qualquer distância,
Pra iniciar uma nova romaria,
E também uma nova harmonia;

E quanto a você, o que será,
O que é que você sonha à noite,
O que fará se já é hora de acordar?
Cecília

O teu mundo era tão seguro
Quando eu bati na tua porta
E não terminei o que comecei;
E você gasta o tempo sem notar
Só pra provar que eu me enganei:

É que ninguém vive pra sempre,
E daí em diante o que sabemos
É que se nasce todo dia, por amor,
Em cada letra com que se diz adeus;

E o que antes nunca se atreveu
A ver luzes e cores sob as sombras
Não podia ser como os sonhos teus;

Eu sei que existe mesmo esperança,
Mas por que é que vejo os dias assim
E estou longe de mim, fugindo de você?
E estou fora de mim, perdido pra você?

Por que será que ficamos em euforia
Quanto ao que temos à nossa volta
Já que estamos presos em uma ilusão,
E não adianta ter força sem convicção?

Mas me deixe aqui com meus amigos:
Desperto e perto o abrigo mais antigo
Dirá que o apreço que se quer refeito
Espera apenas por uma certa afeição;
Outono

Vamos passear no quarteirão,
Olhar as casas e os prédios:
A cidade nua está recolhida,
A cidade nua jaz adormecida;

Aqui fora faz um frio danado,
Mas você se deixa induzir
Pra qualquer lugar inesperado,
Assim...Quase sem sentir;

Vamos passear no quarteirão,
Olhar as casas e os prédios:
Quem nos mira das sacadas,
Quem nos espia sem admitir:

Que a sinfonia, a medida exata,
É a paz,
Em ter no ter o que se tem,
A sinfonia, a suave melodia,
E a paz,
Que o saber viver nos dá;

E destas crônicas,
Somos os peregrinos;
E cada vez igual é diferente:
Não sei se o tempo é que voou,
Ou meu coração que aterrissou;

Não nos preserve por herança
Nem nome e nem mesmo idade;
Pois é bem verdade que a bonança
Sempre cai depois da tempestade;
Vanessa

Sabe, é preciso saber viver,
Minha cara amiga,
É mesmo preciso querer viver;
Por favor, viva!

Um pouco além do que pensas
Ter perdido,
Tem um castelo de areia onde
Não há vento;
E é para lá que estamos indo:
Eu, teus amores, os velhos sonhos;

É tarde, agora tenho que partir;
Amanhã ou depois será a tua vez;
E sem esperar, o lado a lado,
Outra vez;

Enquanto isso, um outro alguém
É que talvez precise
De um pouco mais de atenção;
Tanto quanto eu,
Tanto quanto você;

Chegarás atrasada, não importa:
Estaremos todos lá,
No salão de festas decorado
Com balões coloridos,
E com danças animadas;

Eu quis falar da tua vida,
E desta solidão,
Em que se pode tomar parte,
Mesmo em silêncio:
Qual a tua lembrança mais remota?
Qual o teu desejo mais sincero?

O que tem no teu mundo interior?
Quem é que ousa te dizer “não”?
Quem te roubaria uma lágrima,
Pra te deixar, vivo, um sorriso?

Quem te confiaria em segredo
O duro caminho das pedras,
Só pra te ouvir dizer que “sim”:

Sei...Agora é um passo após o outro;
Sei...Agora eu sei o que é preciso;
Só ficou em mim, meu doce destino?
Aeroporto

Acima de nós, o ar rarefeito,
No tempo e no espaço;
É um convite, é uma tentativa,
A se correr o risco,
Pra relegar a segundo plano,
A fuga e os defeitos;

Radares e controles ajustados:
No mapa a linha reta testemunha
A borracha que segue riscando
Diários de bordo tão nublados;

A vassoura que segue varrendo
A pista livre, corações extraviados;

Mas com tuas frágeis asas de cera
Você acha que podemos alto voar;
Mas o sol não é um gigante tolo:
Nós mal aprendemos a caminhar!

Em terra firme querer chegar
Até onde a pupila é imprecisa,
Onde é que está a diferença,
Pra quem pode, pra quem precisa?

E se for a última chamada,
Qual poltrona marca tua passagem?
Onde é que está a diferença,
Do que é enjôo, do que é bagagem?
Retinas

Depois das quatro estações,
Os traços no espelho e na vidraça:
Quais são as tuas sensações
Ao arlequim que recuperou a graça?

Se alguém te pede pra parar
É porque talvez te queira bem;
Então, que cessem os beijos tontos;

Veja só, são nossas crianças:
Elas criam mundos nas calçadas,
Como nos desenhos de televisão;
Como nas histórias em quadrinhos;

É a inocência que vai envelhecendo;
E se os anos nos restarem poucos,
Serão anos mais mágicos que outros;

Do outro lado destes portões,
Sai a rotina em desalinho:
Que desperte antigas emoções
Ao que cultivas tão vizinho;

E se alguém te chama a cantar,
É porque talvez te queira bem;
Então, que ecoem, afinados, roucos;
Feliz Aniversário

Me desculpe,
Foi mesmo sem querer;
Tantos anos
Pra depois eu me calar:
Nem um cartão
E nem rosas vermelhas,
Nenhuma magia
Ou beleza que conforte;

O que é que vai
Se o mesmo não vem mais?
Eu tive sonhos
Que você não quis provar,
Mas se pra você
É só outro dia perfeito,
O meu coração
Nunca me abandonará,

Mas não...Nada disso,
Não era pra ser assim,
Quem sabe da próxima vez;

E aqui, onde você passou por mim,
É onde eu vou sempre estar,
É onde eu quero ainda estar,

E tudo o mais que eu pude amar
No tempo de um Outono frio,
Num mês, ou mesmo um dia:

É uma velha lembrança amiga,
É tudo o que eu mais queria;
Andréa

Se o teu riso e o teu olhar têm a cor,
Dos teus filhos, o teu berço de calor,
Eu disse não, mas quis dizer que sim:
Eu vejo os crimes, e tudo que passou,
O final errado e tudo aquilo que faltou;

Não tenho receio se você mentiu,
Pois aprendi que é simples aperto
Do ser que esconde a sua própria fé,
Um coração em prantos sob o sol
E os passos presos, caídos pelo chão;

E pra você o que eu não quis tentar,
O que eu não pude mesmo enxergar,
Está por perto, tão perto, dá pra ver,
Está por perto, tão perto, vai crescer;

Quando se ama mais do que ninguém,
É como se não houvesse mais alguém
Pra dividir e ter com quem contar;

E se não há que ter e ver que alguém
Entre o céu e a terra é anjo também,
É porque já está na hora de voltar;

Veja só, nós somos feitos imperfeitos:
Eu quis te ter dentro do meu espelho
Mas só conseguia ver o que eu mesmo
Não queria admitir que era impreciso;

E tão logo se calaram tua boca e a tua voz,
Foi de outros um outro tempo que surgiu,
E nos trouxe à vida o que era de se viver
Pra saber que ainda assim se chama amor;
Werther

Então venha:
É mais do que vontade
E não pode ser estorvo,
Mesmo que pareça morto;

É, meu caro amigo:
Sei, de mim eu fiz apego,
E não deixo de ser insano;
O que quer dizer “estás errado?”

Aonde é que foi parar?
E não pensar que tudo muda,
Sem sentir;

Aonde é que foi parar?
E não pensar que tudo fere,
Sem querer;

E ainda que eu me esqueça
O que mais me agrada,
O que mais posso dela levar,
Senão minhas lembranças?

É, meu caro, velho, amigo,
- Sei, você não sabe ser capaz -
Mas eu te peço que entenda:
O que quis dizer “agora é tarde!”

O que é o coração humano,
E quais são as alternativas?
Obrigado, mas eu não posso,
Obrigado, dessa vez eu passo;

Dessa vez sou eu quem parte,
E eu não sei se volto logo;
Eclipse

Parece que algo mudou:
Tua boneca não é de pano,
Meu chapéu não é de jornal
- Bem-vinda à vida real -

O que temos nas mãos
Faz da sorte, o beijo, o porte,
De toda tristeza mais cruel,
A alegria e o compromisso;

E neste exato momento,
A gente muda de assunto,
A gente perde o interesse,
A gente pede as desculpas:


Pra notícia que não chegou
Pra contar o que se esperou;
E o poema que ninguém leu
Pra lembrar o que aconteceu;

Mas deixe estar, eu vou ficar
O tempo todo a observar,
Daqui até onde for, deve existir,
Alguém que nos faça permitir:

Apagar tanta intolerância,
Acordar tola sonolência,
Esfriar toda indiferença;

Alguém que vai nos provocar,
Alguém que vai nos dirigir,
Alguém que vai nos estender:

Os conselhos mais perfeitos,
E as palavras mais bonitas
;
Dias De Um Futuro Esquecido

Começando tudo de novo,
Fugir antes da razão
E ocupar o seu lugar,
Onde não há ninguém;

Já não há porque fingir,
Não há o que falar
Que não seja com fervor,
Só pra parecer honesto;

E assim você vai saber,
A partir daquele gesto,
Dizer milhões de coisas
Em poucas frases curtas;

E assim você vai saber
O quanto se tem pra dar,
O quanto se pode tomar;

E antes que eu me entregue,
Pouca coisa me interessa:
Pra que o torpor reaja assim,
Eu não vou me embriagar;

E ainda que eu me aborreça,
Ao que mais nos interessa:
Eu vou querer ver o que chegar,
E eu vou querer você pra mim;

E é sempre assim, o sentir:
Que o novo é mesmo assim,
Que vai trazer você pra mim;
Corações Perfeitos

Sei, não é você:
Em cada canto,
Um sorriso, um pranto,
E no entanto, tudo se move;

O que é que há:
Vai, deixa pra lá,
Nada é certo, isto é certo,
Um dia, o belo se faz pobre;

Vem, vem de volta,
Vem, vem pro futuro:
O que se foi é passageiro
Do trem que partiu antes;

É desse jeito, velho amor,
Que estaremos do outro lado:
Do pior, bem mais distantes;

Então, não é pra sempre,
E também pra nunca mais?
O que hoje já não serve,
O amanhã já não verás?

Os meus passos tão tortos,
Os teus passos mais leigos;
As nossas crenças tão retas,
Os nossos medos e restos;

Qualquer pesar e o jeito de errar,
O tamanho do fardo pra carregar,
O peso da falha de quem quis amar;