quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

V: Pequeno Mapa Do Tempo

Eu guardei pistas por aí,

Figuras pintadas em pedra,

Poesias em espaço imaterial:

Um futuro para ti reconhecer;

E por ora já perto daqui,

Se dentro do vaso na janela,
Do meu casaco preto e gasto:

De novo meu novo aniversário;

Com os pés rentes ao chão,
De mãos dadas e mãos limpas,
Olho no olho seu olhar infantil:

Vi eu e você a procurar por mim;

Sem retoques a tua cor e o clarão:

Então admirável novo mundo se fez
À tua condição;

E recolhi meu jeito já seco do varal:

Abri meu peito à força do teu vendaval;


E a toda norma e forma - desobedecer

E em cada face e a cada fase - sobreviver

Há um gatilho por disparar:
E se passa a passo o presente
É à tua constância que me atrelo
E me atrevo a envelhecer em paz;

É o que trago e o que tenho:
Mas que isso leve até me pese

Levo como saudade não vulgar

A não vogal que inicia o teu nome;

sábado, 5 de novembro de 2011

Todos Os Amanhãs...

E em não pedir licença
Passam em nós essa gente:
Que só conhece seu quintal
E já não divide com ninguém;

Quem acorda primeiro
Alinha o rumo e a viagem:
Porque há vida e há espinhos
Também há vidas e sentidos;

E muitas vezes você disse:
Vê - logo teremos muita luz
E de todas as vezes que morri
Queria ter perdido as memórias;

Mas foi embora de uma vez
A força e o timbre da tua voz:
Aqui ainda há o que surpreenda;

A mesma gente que se agita
- me esclarece por favor -
O que envenenou a tua opinião;

E eu que cobicei tamanha sorte
- ainda nada sei -
A cada passo todo perto é tão longe;

Pra que fazer de conta que passou
Se é vivo e é verdade nosso embaraço
E quem só tem verniz e não tem coração?

E será que temos tanto tempo assim
Onde a chuva rala contorna o teu corpo
E a mesma chuva esconde a minha sombra?










sábado, 15 de outubro de 2011

Chuva Na Vidraça

Porque tudo se espera
É se ter alguma proteção
E em cada esmola e vitória
Vem sempre o mesmo crime;

E assim pesou espesso
O ar com cheiro de solidão
E quem nos faria tudo enfim
Já não achou mais o que fazer;

Temos estas lembranças
E as lembranças não nos tem
Mas talvez só tenhamos errado
A nossa própria lei e a sentença;

Hoje a maré subiu bem mais tarde
- ondas serenas quebram ao longe -
Hoje sei preciso onde é o meu lugar;

E que mais nada seja igual
- não ter pra onde ir -
Levanta o véu da tua tristeza;

Se fomos loucos e fomos santos
- ainda somos brandos -
Só por ver graça em amar de novo;

Há um quê de tão contínuo
A construir um bom conselho:
Esquece - foi há muito tempo atrás

Que você pense tão impossível
Pois então te dou o que era meu:
Descansa - põe teus pés sobre o sofá

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Atrás Dos Olhos

Tanto perto o tremor
Que a tarde escureceu:
Pra subir até o teu quarto
Precisei agarrar o corrimão;

É atento teu entender
Como vai desaproximar:
De tempestade e terra seca
Duram o que há para durar;

E se num dia qualquer
Chegasse então o futuro:
É ver o erro em perspectiva
Ter que desfazer os porquês;

Sei - não faz sentido algum
Mas - e se eu te dissesse como
Bem - por onde você começaria?

E tantas vezes fiz você dormir
E meu coração ao lado acordado;

E se tivera tido tédio ou temor
- e de bom grado me servia –
Eu me afoguei em tua correnteza;

E se assim nada mais existir
Resta o pedido “nunca esquecer”
Deixa o vento abrir o teu ouvido;

Então me faça forte outra vez
Me mata essa fome “tão distorcida”
Apaga o rastro pra eu não te seguir;

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Lorraine

E agora só entorno
Do beijo e o abraço:
Ao que te acostumava
Já não tens o paradeiro;

Eu que já me perdi
Sei o que você sente:
Parece que tudo já viu
Do que tinha pra se ver;

Era o peso do querer
Que veio como ladrão:
O que agora te consome
É uma estrada que passei;

É a ferocidade dos dias,
A voracidade do coração:
Já outra semana terminou;

E que talvez importe:
- Que fim levaram -
As dores, flores e histórias;

Não me mudo de mim:
- E mais uma vez -
E só por hoje eu te traduzi;

E ao sair de casa à calçada
Você olha pra todos os lados:
Sinto muito não ser da tua rua;

Mas pra chamar tua atenção
De tanta pressa em ir embora:
Era minha a pedra na tua janela;

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Pele

Eis nosso esse esboço
A gosto e exposto certo:
Vou chegar em casa tarde
Ou você vai chegar na frente;

E num dia nada quente
Andando no meio da rua:
Abalroada minha pretensão
De ser alguém pra te conduzir;

Minha voz à rouquidão
E havia fogo no teu olhar:
E o que não decidi por mim
Decido foi por si sem o cortejar;

Quase tão difícil é discernir:
Sempre faço carbono do tempo
Depois de tantos afetos perdidos;

Às vezes...
Sorrisos findos não se apagam:
Ah! Não fui eu quem quis assim;

E no entanto na TV se expressa
A nostalgia de uma vida renegada,
Uma vida envolvida em si mesma;

É a ética das emoções
E de resto não observada:
É porque eu sinto todo o efeito
Feito o peito oprimido de alegria;

E se carinho ou se açoite
Ao menos isso tem sentido:
Quando tudo parece estar em paz
Se aproximam os últimos carnavais;

quinta-feira, 14 de julho de 2011

40

É do que se quer
E o que vier no fim:
Se alívio ou esperança,
Se destinos ou destroços;

De quem vai ficar
A quem pode sumir:
O eu te amo pra sempre,
Um ligeiro aperto de mão;

E pra te ver passar
Estendi o meu tapete:
De folhas secas de outono,
De amarelo e cinza colorido;

E me assustei:
Dissolvi o mundo
Bem à minha maneira;

E até pode ser que o errado
Possa mesmo ter funcionado;

E agora - o que importa
Ou quem sabe até me vença
Este tempo amigo tão paralisado;

Espero - e que você sorrisse
Não preciso mais me despedir
Como uma poça d’água sob o sol;

sábado, 25 de junho de 2011

Genebra

Do que se leva por suave
Volta uma justa proporção:
O que você não devia deixar,
O que eu não deveria guardar;

Mas vidas são passageiras
E haverá sempre um motivo:
Talvez teu nome bem grifado,
Ou um recado escrito rasurado;

Se não nos foi indiferente
Não há mesmo como evitar:
Eu penso no que está por vir,
Me esqueço que você não veio;

Parece que não há mais lugar:
Eu me dou conta de quem sou,
Eu acho até que me feri sozinho;

Mas - acorda - é a saga e a sina
O que nos ensina essa desordem?

Um alguém - um espelho humano
Quem nos pode ter para nos perder?

E se você chegasse a tempo
Por um segundo eu ficaria feliz:
Mas este é só o fim de uma espera
Antes que uma outra então comece;

Eu te reconheço feito inverno
Pois viemos de dias tão remotos:
E aqui entre o mar e o oitavo andar
Crescem anjos de pedra pelo jardim;

domingo, 12 de junho de 2011

O Que Você Vai Ser Quando Você Crescer...

Um coração
- arrancado aos pedaços -
A permissão antes da ilusão?
Algo que se negará três vezes?

A casa cheia
- uma imperfeita simetria -
Por que tudo está tão quieto?
Onde te levaram tais palavras?

Amanheceu
- e agora essa luz tão clara -
Você escutou o despertador?
O que é que há de mal nisso?

Todos os dias são...

Tão pequenos improvisos:
E pro teu mais profundo eu
Uma coleção de coincidências;

E sempre alguém procura por ti
Eu também vi - as coisas vão além

E viramos dois - ombro no ombro
O amor em um brusco movimento;

Bem eu sei o que acontece
Quando se espia senhor estrago:
E talvez não corramos mais perigo;

Mas será que você pode acudir
Ao que irá se fazer nossa morada:
A vida é o melhor lugar pra se viver;

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Song For Suzanne

Ah!...Se eu soubesse
Quanto custa entender:
Que se pode mesmo rir
Tanto quanto se adoecer;

E o tempo se retrairá
Ao nosso melhor plano:
Do que se quer acreditar
Ter paisagem ou fronteira;

E não cegar tua visão
É tirar melhor proveito:
Até aqui e do que fomos
Foi onde deu para chegar;

É o que de nós constará:
É a velha ótica da história
E uma canção desesperada;

Em folhas soltas de caderno
- Que deixei -
Eu construí um barco de papel

E do que lembrei
- O mais fiel aos teus traços -

E se há culpa ou se há tormento
É porque não cremos nisso antes:
Agora lá fora o mesmo sol levanta;

Ainda há um por que de se voltar
E te participo não estarmos prontos:
Disparo e paro ao meio do caminho;

quarta-feira, 2 de março de 2011

Tribunal Das Ruas

Agora sou tua contramão,
Pessoas a esmo pela cidade:
Não posso ler o que pensam
De todas as nossas incertezas;

Meu suor e pés descalços,
Corro aos riscos que herdei:
Parece que há um surdo eco
De você a rasgar meu ouvido;

É o que há dentro de mim,
A realidade é uma filha nua:
De tudo que é fúria e desejos
Não vingará farsa ou disfarce;

E a felicidade não é bondade:
Logo - posso esperar seja você
Quem primeiro vai se reerguer;

Vem um toque de descontrole
Por causa da nossa impaciência;

Há um fim de tarde amarelado
Pelas alamedas do meu coração;

Acreditamos em céu e inferno
E que talvez nada irá acontecer:
É por isso que nos doma a vontade;

Mas ficará impresso na tua pele
O rastro esguio de que fomos dois:
Eu insisto que não minto sobre isso;

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Kilimanjaro

É sempre uma surpresa
E de você assim se atreve:
O abraço forte que protege,
Branca neve à primeira vista;

Era o caminho e a visão
Que tampouco havia tido:
O erro em graça convertido,
Uma noite em claro redigida;

E pra falar o que eu senti
Fiz roubo as tuas invenções:
Um alfabeto de letras a mais,
A lembrança que seja indolor;

O teu amor chegou - eu ri
Com os sapatos tão polidos:
Colando minha alma na vida,
Tão equilibrado e por um triz;

Aqui é topo de nosso mundo
Aqui - veja - ninguém à procura

É até onde resista nosso fôlego
Então - me explique como estou

Vamos sumir antes que o fim:
Carreguemos este sol diferente
Meio estampado em face a face;

Mas eu acho que não pode ser:
Algumas coisas são mais bonitas
Não tocadas ou deixadas pra trás;

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

A Cura

Tão longe e tão perto,
Eis aqui o teu endereço:
Apaga a luz do teu quarto
Só pra ter o mais e o mesmo;

A beleza crua do nascer,
O que de ti furta um olhar:
Uma praia de areias brancas
E uma lágrima que cristalizou;

Tive medo e posso andar,
Sei lá do que os outros são:
Eu sou o mesmo sem querer
E a qualquer distância de você;

A carvão risquei rascunhos
E fiz em teu retrato no cartaz
A ilusão que quis equivocar-se;

E o tanto mais alto que se foi
Antes de a gravidade nos puxar;

Escuta - já que tudo vi passar
Também isso tudo passa - depois

Todos têm seus segredos e sinas:
Mas é que tem essa saudade insone
Que força nossa engrenagem girar;

E bem me quis você pra entender:
Mas se o chão vier se abrir desculpe
Se por um acaso eu fechar os olhos;

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Paris, 1944

Ah! A quem acreditar
É outro Agosto reposto:
Beber de novo água pura
Que o dano real já passou;

A tarde cinza anunciou
Uma nova voz para guiar:
Quando o amor é um temor
A quem entrega a sua alma;

É tão humano ao partir
Não querer se machucar:
E vai liberta nesta multidão
Que faz nossa cabeça rodar;

A alguns corações a salvo
E lá se vão nossos instintos
E mil voltas a um recomeço;

Deixa...pra lá
Só me estenda a mão:
Mais uma guerra acabou;

E o agora...
São boas e más memórias
Que o futuro tem;

Eu já disse a Deus - perdão
Mas eu sinto pelo que se viu:
O mundo um grande tumulto;

E você disse - ficaremos bem
Mas eu acho que saí andando:
Fui lutar longe de mim mesmo;

sábado, 22 de janeiro de 2011

A Casa Abandonada

Não há mais ninguém
Tão igual ao teu protesto:
E pessoas de contos de fada
Vão fazer de conta que o são;

Quantos anjos já caíram
A traficar sãos sentimentos:
Este meu coração sob chamas
É meu exílio e meu purgatório;

E no peito outra frequência
Mas e o que temos dessa vez?
Vai ver é a dor que se escondeu
Ao ver tinta nova nestas paredes;

Vai ver...

A calmaria atingiu o temporal

A dublar minhas roucas palavras
Ou o beijo que dera à morte vida;

E no teu apartamento - comunhão
Não prestei atenção - mal li o roteiro

Acontecimentos, alegrias - insolação
Cada dia e sua razão - hoje sei por quê

A semana toda ficou para trás
Como uma prece não decorada
E destoa à toa a minha obsessão;

Pensei em você o tempo inteiro
Como uma linha reta não traçada
Que navega cega em minha solidão;