terça-feira, 21 de abril de 2009

Balada Para Dois Sobreviventes

No princípio era bom-dia
Mas já tudo ficou fora do lugar:
Sinais de fumaça da tua depressão,
Na tua casa vi portas de saídas falsas;


Viemos de lugar nenhum
E tua nave bateu nesse planeta:
Quis detalhes da minha confusão,
Me viu na praia de uma ilha deserta;

E os dias os dias engoliam
Tecendo as teias dos segredos:
Não mais estranhos sob um risco,
Viajantes e suas vontades e bondade;

E quando a poeira baixar
Seremos fortes por estarmos certos:
Éramos você e eu e nos saímos bem;

Como eu posso te ajudar?
Se quem passa bebe de nossa fonte
E traz o gesto, a palavra e o carinho;

Descobri na ponta dos meus dedos:
Há tanta vida em teus cabelos soltos
Que usei de minhas asas pra você voar;

E não haveria mal nenhum
Mas ter pressa é um surto fatal:
Fiz meu pouso bem na tua varanda
E ali tivemos umas conversas amigas;

E depois daquele boa-noite
Tivemos o sono mais tranqüilo:
Fugir ao que dita nosso estandarte
Seria mais um indecente improviso;

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Gentileza

E o telefone mal tocou,
Quase que pedindo desculpas;
A voz muda me colocou morto:
A um outro vai agora o que era meu;

Você, sem pedir licença,
Trouxe a mim os teus dilemas;
Avistei o mundo por teus olhos:
Mas não pude te provar o contrário;

E hoje quer falar comigo,
O que sei desta conspiração?
É um movimento nada perfeito:
Jurar viver todas as vidas em uma só;

Mas não tem jeito, é humano desejo
O ter alguns momentos mais intensos:
E num repente o nosso tempo já se foi;

Foi só um contratempo,
Acho até que prometemos não sofrer:
Mas como é que poderíamos adivinhar?

A razão sempre nos traz
O benefício de nossa dúvida,
Mas era nossa avidez e ali ficou:
Nomes e datas proscritos nas areias;

Então o futuro já chegou
E ainda estamos por reparar;
Acho que assim ninguém nos vê:
Como ruas escuras em um dia claro;

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Por Sobre Os Telhados Do Mundo

Se tudo muda,
Faça disso o que souber:
Quem mais cedo sai de cena
Já cedeu o tanto que lhe valia;

Você está viva,
Ainda resta algo para ti:
A quem merece que se cuide
O ter outras violetas na janela;

Então está feito,
Sem enganos, era pra ser:
E bem ali no mapa dos acasos
O caminho que leva para casa;

E a toda hora
Você vai mesmo lembrar:
Que tomou parte na ciranda
Ao lado dos anões deste jardim;

Porque sempre vai ficar:
Há coisas a que o dinheiro vale nada,
Se o coração bate não como se sente;

Tão longe...Tão perto - foi melhor assim
Feito gente...Feito bicho - é mesmo assim
Vamos viver - uma vez mais

E tudo se resume
Em pra frente é que se anda:
Mas ninguém acha que está errado
Querer buscar o tempo desperdiçado;

E só nos interesse
No portão de entrada o aviso:
Longe de qualquer crença, religião,
Pra quem entra, deixai toda esperança;

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Helenna

E tão estranha e linda,
Sem ter medo e sem ter fome,
Você se foi e eu não vi os rastros,
Como caravanas cortando desertos;

E junto a ti a confiança
Daquele a quem você deu vida,
Faz da solidão quase um desabafo,
Tal como um veleiro em mar aberto;

Eu quis estar tão certo
Do que dizer sem parecer insano:
Imaginei que o sol pudesse congelar;

Eu quis ficar mais lento
E ao lembrar não parecer injusto:
Se chegaste ao céu, tua lua é mansa;

Que vença a falta o infinito amor:
Que venha sem culpas o teu amar;

E que você possa ver um lindo dia
Sempre que encontrar um dia ruim;

E assim que eu aprender,
De frente pra qualquer inimigo,
Vou só escutar o canto das ilusões
Como cata-ventos zombando o vento;

Meu trem já quer partir,
Levar consigo o poder acreditar:
Somos passageiros que vêm e vão
Tal como um nevoeiro sobre a cidade;