terça-feira, 22 de dezembro de 2009



Adeus Às Ilusões

Parecia - era pouco
Amor do quase nada:
E de tudo nos serviu
O que foi de mais valia;

E mais do que isso
Há muito era o aviso:
É borrasca ao oceano
Aonde a onda se retrai;

E sobre nossas cabeças
- Marquises tão pesadas -
Poluem falhas de mortais;

E tanto ar ou mesmo fogo:
Somos quase confusão;

Somos todos terra e linho:
Kamikazes por perdão;

Esse é o nosso mundo:
E a cada Davi caberá assim
Derrubar seu próprio Golias;

E como quer que me vejas:
Sou relato do que se fizera feliz
Mas diverso ao que você queria;

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009


Anna K.

Se não mais o “ver”
Ou “como vai você”
Não há o que punir
A essa nova elegância;

Foi-se nosso plano:
É que nos precedeu
A lógica dos inocentes;

E faça essa solidez
Tão apenas que você:
Vença tudo que mereças;

Absolva até um passado
Mas não a tua identidade;

E de ti aqui tenho comigo
O que cabe em meu bolso:
Mas o que reza essa espera?

Imagino - alquimia e paraíso
Sonhos tantos e mal contidos;

Enquanto isso - só mitologia
E pra sempre é sempre “será?”

Há quanto tempo te conheço,
Por quanto tempo vou guardar?
Ah! Se eu soubesse - não durava

E que exponha crua realidade,
Eu repito mantras de saudades:
É difícil feito verbos - feito crase




terça-feira, 8 de dezembro de 2009


Uma História De Ontem...

Tantas promessas
Te pedem pra ficar,
Indulto que não tens:
Quem está por chegar,
Deixe - vais reconhecer;

Feito céu dia e noite,
Sentinela que não cai,
Vi você tão longe perto,
Alerta - meu imaginário;

Aeroplano em pleno voo
- E ao que li em ti calado -
Oferto o meu vocabulário;

Mais que palavras - então
A cada silaba faltara o tom;

O dom - e já não despeito
Quisera eu ser tua perfeição;

De aço era teu soluço,
Que estavas preocupada:
Foi por ser meio prudente
Às curvas de nossa estrada?

Temos gana, temos nada,
Quase igual pressentimento:
Será de poças, será de rocha,
A constância de nós mesmos?

sexta-feira, 27 de novembro de 2009


Roma

Aqui estamos:
Ascensão e queda,
Quantas vezes acontecem,
Uma vez donos do mundo;

E repare bem:
Ilusão é esperança,
Jogada na arena aos leões,
De quem da vida é passeio;

Mas me lembro:
Nenhuma misericórdia,
Em cada coração o ladrão,
E os assaltos dos caminhos;

Derrubou estas muralhas
O incêndio não combatido
De toda essa resoluta paixão;

Sem espada, sem escudo,
Eu cortejei qualquer perigo;

E sem você - a triste rainha
Me confesso tolo - e acabou

Era a polidez:
Vinho e mesa farta,
Uma legião de bons amigos
Tão alheios ao meu contento;

E teve também:
Liras de claros sons,
Nas ruínas que são tão belas
Sandálias novas sobre o chão;

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Que Horas São ?

E perder
Só se for pra ser,
Há de ter alguém:

E o que se faça
É não sair do lugar;

Estar a fim
Se já não dá mais,
O que quer escutar:

Ah!...Não esqueça,
Ainda te quero bem?

E pra saber
Só ao fim do filme,
Onde o mesmo refrão:

Somos iguais, eu e você,
Sinto muito, mas te amo;

Vamos celebrar:
E pra não estender
Eu já nem existo mais;

Eu sei que já é tarde:
O que poderia ser afinal?






quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Pierrot

E sem querer
Logo ali passou
O que se tramou:
Foi como um condão,
E nada sutil o alvoroço;

Chamado amor
O que se tremeu:
Ela estava com pressa,
Eu fui apenas o mesmo;

E de tão sinceros
Maior preço se pagou,
Antes fato e terror agora;

Começo, meio e fim
Pegue a mão - que vir chegar

Ao que há sempre de ser
Peque o mundo assim - por nós

Já não há glamour
No que era imensidão,
Muito pouco que lhe peço:

Dá-me do teu tempo
O que te possa não faltar,
Que não nos possa superar;

sábado, 21 de novembro de 2009


Cidade Nua

Não posso explicar
De onde vem a causa
Pois o hoje é diferente,
Nada leio em teu inglês;

Palavras dissonantes,
Pés descalços e atrasos,
Me preocupei por você
Que procura boa comida:

Que à alma alimente
Uma espécie de carinho
Sem descrença ou incapaz;

E era eu - foi bom
E amanhã - quem de nós
Será?

Será que vamos sumir
- Obrigado por tudo -
Depois que a chuva passar?

Vem, senta aqui,
Olha pra esta calmaria:
Estava mesmo a seu dispor
Mesmo muito antes de você;

E antes de mim chegou
Quem deu o que podia dar:
Assim como quem nada quer;

sexta-feira, 13 de novembro de 2009


In Versus

Muito bem,
Fomos alto então:
E não mais me achei,
Mais um dia sem mim;

E pra você
Algo qualquer assim:
Do outro lado da noite
Nada além da escuridão;

Vou conseguir escapar
Do esperar a tua resposta?
Vou corrigir a minha sombra:

Metade não quer ir embora,
Metade só pensa em partir;

Ser o choro de uma criança,
Desfilar a vida em avenidas
Sem procurar ao fim;

Recusar o passo ao penhasco,
Dessa vez - teimar em ser feliz

Por favor, entenda:
As coisas são tão normais
Onde a gente se atrapalha;

Pouco é enorme sorte
Ter suave o gosto amargo
Onde a gente se abandona;


quinta-feira, 5 de novembro de 2009


Roda-Viva

É muito tarde,
Me contava você:
Era um leve cochilo
E sonhei estar de volta;

Mas olha agora
Pra o que você vê:
Erros em baixo-relevo
No poder que se abusa;

E hei de soletrar
Se acaso esqueceu:
Tão adverso é o brilho
Tido certo que se impõe;

E venha de encontro
O inverso que equilibra
A vida que logras ser boa;

Mas quem retomará?
Tão terreno é o perdão
E toda entrega e mutação;

Já não há o temor servil
No amor que nos quer um;

Ei, colore o que você tem,
Frente faça aos imprevistos
Que um dia nós saberemos:

Aqui nesta Torre de Babel
Pessoas sempre são pessoas
Só o que muda é um coração;

sábado, 31 de outubro de 2009

Julie Et Joe

E sem querer,
O mesmo mundo;
Também pudera:
Anjos perdem rumos;

É como vai,
Talvez meio sorriso;
Frágeis corações:
Quase cacos de vidro;

Mas ela dança,
E quase ninguém vê;
Mas é para você:
É pela tua constelação;

E à tua escolha feita
Feito festeje então:
És agora - depois memórias

E quando for partida
Ou mesmo só cansaço:
Deixa cair o fardo - das mãos

Seja único o cuidado
De voltar sem menos - esperar

E não parar,
Aonde nada é assim?
Corre tempo sobre nós:
Pássaro livre sem voar;

O que é isso,
Quanto o perto é aqui?
Muito além do horizonte:
Pescador longe do mar;

sábado, 17 de outubro de 2009

Nós Que Aqui Estamos...

Faço de meu tédio
Um lugar,
E em cinco minutos
Fica sempre igual;

Presos nesta carne
Por julgar,
Pela frente as tolices
Que não conquistei;

De um simples erro
No plural,
Eu destilei estragos maus
Pra você considerar;

E acossado,
Depurei maiores vícios
Pra você se anunciar;

Mostra o teu rosto:
Teu jeito de amar as coisas;

Que não há indiferença:
São só nossas bruscas razões;

E de tanto amor se fez:
Uma vida foi vivida,
É verdade não contrária;

É tão denso esse senão:
Quer a vida admitida,
Tão solene ou tão perdida;

domingo, 11 de outubro de 2009

Wake Up
(Annelise)

Pra quê fingir
Eu não sou assim:
Aonde quis chegar
E quem falou demais?

Foi só o jeito
E deixa acontecer:
Adeus pra não lidar
Chutando latas de lixo;

Depois do sol
O dia trará a noite:
E de uma só estrela
Aprenderás em segredo;

Que ser trairá a morte:
E que se não temê-lo
Suspenderá uma lágrima;

Às vezes é só desencanto,
É a chance que não vemos;

Ou então nenhuma valentia:
A porta aberta que não passas;

E quase de repente
Já passou num segundo:
E de novo se alegrará
A música do meu realejo;

Mas não fique assim
"Que venham me salvar"
Se for não voltar atrás
Vem ficar perto de mim;

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Oz

Sabes que já,
O vento levou:
Fomos para longe

Sem poder reclamar;

E todos aqui,
De tudo por ti:
Que vejas natural
Algo mais complexo;

Pode ser “olá”
Ou sonho será:
Ainda sobra disso
Um remanso em nós;

Quando “me perdoe”
Quando “não esqueça”
É sempre o mais correto:

Quero ser esperto
E quero mil coragens;

Eu quero um coração,
E o meu reino - de volta

É nada intencional,
Apenas falta a certeza:
Pra onde leva a estrada?

E como descobrir?
Apenas olhe ao redor:
Você jamais saiu daqui;

sábado, 26 de setembro de 2009

1987

E se teu presente
É um museu de cera,
E resto e estreito não:
Se purifique;

Se o dano causado
For melhor que mentir,
É apelo e sincero pesar:
Que te oriente;

E a vida que arrastas
For o ocaso de um nada,
Teu ópio e singelo furor:
Que te alimente;

E que o gasto se resuma,
Meu corpo sele teu corpo:
Seja isso - consideração;

Que teu seja meu o assombro:
Oh! não - por onde começar?

Que meu seja teu em silêncio:
Sempre - crescer e não querer

E se a tua solução
É um basta nas teorias,
E ruído e intuição pura:
Se concretize;

Se uma foto amarela
For melhor que o sumir,
É álibi e iluminado ardil:
Que se reanime;

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Nômades

E feito você:
Esqueci de ajudar;
Ruas vazias e a gente
Em lento ritmo se desfaz;

Olha pro céu:
É o fim do verão;
E mais um grave ato
No grego teatro de Deus;

Reze por nós:
Alguém à espreita;
Liberdade - guerra fria
O que acontece desta vez?

Quem vai, quem volta?
- Não são novidades -
É só uma falta de costume;

Pode ser que até nos parem:
Aonde é que estamos? - agora

E quando você quis sair
De teus sapatos não vi barulho
Porque meu sono era tão pesado;

Mas sinto que você saiba:
Se o vento move as lisas dunas
Um deserto fica no mesmo lugar;

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Ariadne

O que temer?
Talvez tua imagem:
E por todos os lados
Um quê de livre-arbítrio;

O que é isso?
Parece tua história:
E de tudo que existe
Um quê de sonho audaz;

E depois disso?
Vai ver - tuas vitórias

Bem que te foi amigo
Na mão que tira a mágoa;

Vai ver - necessidade
Quem foi que te soltou
Do fio que conduz a vida?

Corações são labirintos
Mas garotos não percebem:

Morrer é só até amanhã
E viver é só por alguns dias;

Estivemos bem perto
De sábia velha esperança:
Há vencedores e há vencidos;

Por pouco não chegou
E havia qualquer promessa:
De voltar ao início da partida;

terça-feira, 15 de setembro de 2009

O Estrangeiro

O que vai mudar
O estado das coisas?

Ela teve um rosto,
Tão linda pálida cor;

Eu fui até capaz,
E o que amanheceu:
A mim tudo igual
A lei dos homens sãos;

Eu fui até o fim,
Acho que foi ontem:
Eu tinha um nome
E já nem lembro mais;

E não me importei
- E quem se importa -
Não vai se comportar;

Mas dessa vez - sei lá
Pior então:
É ter ninguém;

E logo você - vem cá
Vou insistir:
Me deixa entrar;

Não é defeito,
Paixões são contrastes:
O mais fácil é abandono;

Nem é desastre,
Destinos nos carregam:
O mais difícil é renunciar;

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Ela Chora

Se tão mais terás
Por confiança vem
Será - penso que sei
Mais ameno teu tentar;

E que não vingue
O subitamente vão
Veja - o circo chegou
Há novas atrações aqui;

E da tua morada
Eu preciso retornar
Creia - não te entendo
Mas acreditarei em você;

Se você quis ir além,
Quem ficou pelo caminho
Assiste a tudo e é “tudo bem”

Vai buscar o que é contigo,
Se tão extensa foi tua solidão;

Aqui estou...Aqui estamos:
Absoluta razão que não sentirei
Quando a força do tempo é maior;

É o dom que a alma cura:
Amigos invisíveis que aguardam
Pacientes como Chaplin no final;

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Nascente

Outra vez
E onde estamos:
Conto ao contrário
Dias, meses e anos a fio;

Estava ali
Mas ninguém viu:
Vida nobre imensa,
A decência a nossos pés;

Eu te amo
E mais não posso:
Tanto ainda somos
Da procura nunca o mal;

E dos escombros
Aflora como plantas
A essência do ser incompleto;

E quem te convidará
Pra de novo ter algum futuro?

Tão exatos e tão incautos:
Tardios amores não são raros
Como as falas de cinema mudo;

Sei em mim
A paz que procurei:
E pra você a mesma luz
Longe de simples certeza;

Direi “é sim”
E soe bem a palavra:
Ou dure ainda que seja
Tatuada com giz de cera;

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

À Menina Que Vendia Sonhos...

Pense...Se há:
É o amor acostumado
- Poucos o sabem -
Não ver horror e ilusão;

Deixa...Vem lá:
Qual um filho pródigo
- Algo tão entregue -
Nos traz remos e canoa;

Não se esconda:
Com teu fresco pranto
- Coisa muito séria -
Te faço represa e lagoa;

E você me levaria a sério?
Quem é que vai te segurar?

Quando tudo o mais falhar
Como é que a gente vai ficar?

Eu sei,
Pra mim não há saída:
Eu beberei a dose de tua mão;

Eu viveria
Bem mais que o fim do dia
Ao lado do teu selvagem coração;

sábado, 1 de agosto de 2009


La Dolce Vita

E assim sem fim
O que faz você aqui
Que já não era tido antes
Como o que é preciso ser?

Ficou para depois
E o depois aqui sorri
A quem for o seu direito
Romper as regras do viver;

É tão tarde da noite
E você não pôde pular,
Mas jogou umas moedas
Dentro da fonte dos desejos;

Então deixe que te siga
- E as horas que nos restam -
Nos prendam e nos percam

Todo pouco é tal riqueza
Por favor: não se entristeça;

E se acaso eu estiver certo
Por favor: não me engrandeça;

Eu vi você partir
- Acho que vou consertar -
E pintar em tela águas-vivas
De toda esta natureza morta;

E se aqui estamos
- Debaixo desta tormenta -
Olhe relâmpagos e trovões
Como detalhe o mais bonito;

domingo, 19 de julho de 2009

Uma Janela Para O Céu

E ainda agora
Não ligo pro que sou:
Ser não forte nem inteiro;
Eu quis ficar no seu lugar
Mas você não se salvou;

Eu até me conformei,
E outras vozes se levantam:
Mas elas não podem iludir
Esta saudade que ficou;

Ouço passos pelo corredor:
Deve ser a gata e suas crias
Ou alguém que se perdeu;

E mais dez mil anos passarão
- O que é que nunca acaba? -
Antes que de vez nos matem
- Dentro de nós -

E mais não se tomou
Mas acho que isso basta:
Muito, pouco e quase nada
Nada apaga leais pegadas;

E por que você se foi
Sempre hei de me conter:
Nada mais é que um querer
O suceder os nossos sonhos;

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Stephanie Says

Me explica,
Qual é o mistério:
Se já não é igual
O sangue de um irmão;

Eu caminhei,
Dobrei as esquinas:
Ali eu me sentei
No meio-fio frio dos dias;

Sem absurdos,
E não é coincidência:
Por ti eu até pisaria
No lado mais escuro da lua;

Mas mesmo pra você
O mais alto que puder
Eu vou sussurrar:

Ei! Tão gentis pessoas
De pesados casacos ao sol...

Se não vão me escutar
Não me dirão o que fazer;

Se não vão me conhecer

Não me dirão o que chorar;

Vem me explicar
Por que uma vida boa
É tão severo crime
Pra quem vende a sua alma;

Eu vou caminhar
Pra ver você vir à tona
Que a um aceno teu
Não me atento aos semáforos;

sábado, 11 de julho de 2009

Irmão Sol...Irmã Lua

E então
Passou tão rápido?
Um rito de passagem
Pôs a vida em construção;

E agora
O novo surpreende?
Um lastro de coragem
Fez da vida cumplicidade;

É a escolha:
A missão cumprida
De quem veste o certo
E abre mão de si mesmo;

Não é adeus:
E o que até espanta
Talvez só faça sentido
Pra quem dê a outra face;

E bem assim:
Sei que ela sempre estará
Pronta pra por ti comemorar;

E pode crer:
Sei que ele sempre amará
O que de você o amor causou;

Não é que vá desaparecer
O tanto de bom grado feito,
O elo liberto desta corrente;

E já que está acontecendo
Seja sacra esta simples verdade;

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Dança Das Estações

Por estes rostos
A mesma busca e a dor:
Jeito de quem se atreve
Ter de si o que lhe faz bem;

De outro verso
O mesmo há tanto dito:
Más ilusões vêm rondar
Pedras que não criam limo;

É um quase raro afago:
Contos que não contam
Em que ano nós já estamos;

Inconsciente é esse voltar
Às pessoas...À beira do cais;

E quando vir que vai surgir
- Esteja pronta -
Seja a gota suspensa a cair;

Tão difícil é aceitar
E às vezes a gente acusa:
Mas tudo passa e agora sei
Que esta é a hora do recreio;

E se não atordoar
É cuidar que se convide
:
Uma brincadeira de roda
No pátio molhado de orvalho;

domingo, 28 de junho de 2009

A Estrada Para O Fim Do Caminho

O que é que há?
Não espere que eu lute

- E a quem nos força -
Quem é que pode duvidar
Cada qual com seu espinho?

Não suspeite se eu calar
- Até pra quem me ouça -
É que pra ir mais em frente
Deixei muitas coisas para trás;

E de sobriedade me cobri:
Mas no jardim daquela casa
As flores murchas eu arranquei;

E depois, eu até já esqueci
- Há novos sonhos sob a grama -
Não importa se ninguém está aqui;

E eu te digo:
De novo eu gosto do que vejo;
E eu te digo:
De novo eu gosto do que sinto;

E até qualquer dia?
Não é fosco o teu pensar
- À parte o que de bom -
No cheiro do tempo findo
Da mocidade que fomos nós;

A vida é um hotel lotado
- Há até quem se esforce –
Enquanto outros só espreitam

Tem quem parta porque é hora;

terça-feira, 23 de junho de 2009

Sibéria

Era só mesmo bem-estar,
E não era pra te convencer:
Tantas coisas já não me têm
Que sozinho estaria em paz;

E já eu sei do que se trata
Se eu sentir a tua presença:
Mesmo que em vão tocá-la
Cai o vazio que ela me traz;

Eu tive que querer o além,
Seguir o que seria desfeito:
E acho que consegui voltar
Ao que eu era antes de você;

E hoje quem te quer é imune
Ao medo de quem te estranha
E não vê por que é que você vem;

Dorme, dorme, dorme pra sonhar:
Tudo é sempre igual em todo lugar
Só pra quem não sabe o não mentir;

Em todo lugar tudo é sempre igual
A quem só vive dentro de si mesmo;

E já não nos pode atingir
O frio que lá fora congela:
E então que bela a paisagem
Ao que outros deem as costas;

Aqui o tempo é sem valor
E do fim um outro começo:
Corações renascem todo dia
Pelos quatro cantos da Terra;

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Rosa Dos Ventos

Nunca estamos preparados:
Quem chega diz “muito prazer”
E o que nos rende só nos rouba
De quem um dia nos trouxe aqui;

Minha alegria é descuidada:
De quem resolve o “vou partir”
Se espera uma história a contar
E que não acabe ainda que mude;

E muitos sentem a densa falta:
Ela sorri tão alta sobre os saltos,
Mas não anda mais a pé nas ruas;

Como vai indo tua nova profissão,
Quem são os convidados pro jantar?

O que vem depois do último andar,
E o que aconteceria se você pulasse?

No céu de Ícaro tem brancas nuvens,
Mas lá embaixo as ondas ainda lutam,
Entregam-se à vida contra os rochedos;

Ter sobrevivido às promessas
É já não temer a própria morte:
É como caminhar sobre as águas
Onde ninguém se arriscaria afogar;

É que nem todos enxergarão
Se daquele amar ficou o amor:
Isso é que nos faz a peça ausente
De um quebra-cabeça remontado;

quinta-feira, 14 de maio de 2009

La Folie
(Valérye)

Quando foi que aconteceu?
Somos os amantes de outrora
Hoje adultos criados do tempo:
E parece que tudo fica mais calmo
Tendo o ego preso entre os dentes;

Tentar juntar as pontas soltas
Depois que aqui acabou a festa,
Coisas que a nós julgam impossíveis:
Uma vela a queimar com o vendaval;

Seria só mais um “deixa pra lá”
Mas eu sei bem como você se sente,
E no rádio a canção meio esquecida;

Seria um último “é pra sempre”
Mas você não entende quem eu sou:
Um Dom Quixote que se vê cansado;

Me diga por favor - estávamos juntos
Como pôde ser bastante o ser preciso
Apenas naquele instante?

É pra chamar nossa atenção
Se a terra treme aos nossos pés,
Algo tinha que ser dito e ser feito:
Pense no que de cada um a ti ficou
Como a moda que não tem estação;

Mas se ainda assim há um vazio
Que a nosso lado cavalga devagar,
Não nos trave uma nova expressão
Apontando na cara de nossos filhos;

sábado, 9 de maio de 2009

Valsa De Istambul

É sempre quase o mesmo
Estes arroubos de gente jovem:
Risos, abraços, em qualquer parte,
E leves almas dançam enfeitiçadas;

Andamos de braços dados
Pra um espaço desconhecido:
Estrangeiros, e que ninguém nota,
Em um mundo de presas e pressa;

E tudo vai ficando cinza
E na rua o choque nas pessoas,
Quando alguém precisa nos tocar
Apenas pra que nos sintamos vivos;

Às vezes é tão assustador,
Mas é solidão de quem se obriga
A varrer do corpo o pó dos séculos;

Leve-me de volta e leve-me agora
- Leve-me embora -
Pra nossa velha Terra-Do-Nunca;

Foi de lá que escapou este homem
- Veio de lá -
O pobre homem e a criança em si;

Não fomos feitos pra durar
Além do que poderíamos supor,
E nos ferimos à estranha necessidade
De se perder nas fronteiras do coração;

Então era mesmo pra valer
Quando sujamos as nossas mãos,
E se de nós não ecoar o que se falou
Estes retratos mudos têm mil palavras;

terça-feira, 21 de abril de 2009

Balada Para Dois Sobreviventes

No princípio era bom-dia
Mas já tudo ficou fora do lugar:
Sinais de fumaça da tua depressão,
Na tua casa vi portas de saídas falsas;


Viemos de lugar nenhum
E tua nave bateu nesse planeta:
Quis detalhes da minha confusão,
Me viu na praia de uma ilha deserta;

E os dias os dias engoliam
Tecendo as teias dos segredos:
Não mais estranhos sob um risco,
Viajantes e suas vontades e bondade;

E quando a poeira baixar
Seremos fortes por estarmos certos:
Éramos você e eu e nos saímos bem;

Como eu posso te ajudar?
Se quem passa bebe de nossa fonte
E traz o gesto, a palavra e o carinho;

Descobri na ponta dos meus dedos:
Há tanta vida em teus cabelos soltos
Que usei de minhas asas pra você voar;

E não haveria mal nenhum
Mas ter pressa é um surto fatal:
Fiz meu pouso bem na tua varanda
E ali tivemos umas conversas amigas;

E depois daquele boa-noite
Tivemos o sono mais tranqüilo:
Fugir ao que dita nosso estandarte
Seria mais um indecente improviso;

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Gentileza

E o telefone mal tocou,
Quase que pedindo desculpas;
A voz muda me colocou morto:
A um outro vai agora o que era meu;

Você, sem pedir licença,
Trouxe a mim os teus dilemas;
Avistei o mundo por teus olhos:
Mas não pude te provar o contrário;

E hoje quer falar comigo,
O que sei desta conspiração?
É um movimento nada perfeito:
Jurar viver todas as vidas em uma só;

Mas não tem jeito, é humano desejo
O ter alguns momentos mais intensos:
E num repente o nosso tempo já se foi;

Foi só um contratempo,
Acho até que prometemos não sofrer:
Mas como é que poderíamos adivinhar?

A razão sempre nos traz
O benefício de nossa dúvida,
Mas era nossa avidez e ali ficou:
Nomes e datas proscritos nas areias;

Então o futuro já chegou
E ainda estamos por reparar;
Acho que assim ninguém nos vê:
Como ruas escuras em um dia claro;

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Por Sobre Os Telhados Do Mundo

Se tudo muda,
Faça disso o que souber:
Quem mais cedo sai de cena
Já cedeu o tanto que lhe valia;

Você está viva,
Ainda resta algo para ti:
A quem merece que se cuide
O ter outras violetas na janela;

Então está feito,
Sem enganos, era pra ser:
E bem ali no mapa dos acasos
O caminho que leva para casa;

E a toda hora
Você vai mesmo lembrar:
Que tomou parte na ciranda
Ao lado dos anões deste jardim;

Porque sempre vai ficar:
Há coisas a que o dinheiro vale nada,
Se o coração bate não como se sente;

Tão longe...Tão perto - foi melhor assim
Feito gente...Feito bicho - é mesmo assim
Vamos viver - uma vez mais

E tudo se resume
Em pra frente é que se anda:
Mas ninguém acha que está errado
Querer buscar o tempo desperdiçado;

E só nos interesse
No portão de entrada o aviso:
Longe de qualquer crença, religião,
Pra quem entra, deixai toda esperança;

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Helenna

E tão estranha e linda,
Sem ter medo e sem ter fome,
Você se foi e eu não vi os rastros,
Como caravanas cortando desertos;

E junto a ti a confiança
Daquele a quem você deu vida,
Faz da solidão quase um desabafo,
Tal como um veleiro em mar aberto;

Eu quis estar tão certo
Do que dizer sem parecer insano:
Imaginei que o sol pudesse congelar;

Eu quis ficar mais lento
E ao lembrar não parecer injusto:
Se chegaste ao céu, tua lua é mansa;

Que vença a falta o infinito amor:
Que venha sem culpas o teu amar;

E que você possa ver um lindo dia
Sempre que encontrar um dia ruim;

E assim que eu aprender,
De frente pra qualquer inimigo,
Vou só escutar o canto das ilusões
Como cata-ventos zombando o vento;

Meu trem já quer partir,
Levar consigo o poder acreditar:
Somos passageiros que vêm e vão
Tal como um nevoeiro sobre a cidade;

sábado, 21 de fevereiro de 2009

O Lobo Da Estepe

Vou abrir o jornal
E ler histórias que se repetem:
E do trabalho todo dia
O que sei por vezes até me distrai;

O sol bate à janela
Mas a vista é sempre a mesma:
A distância das pessoas
Que vão daqui pra todos os lugares;

E na minha aldeia
Quer ficar o que de ti transforma:
É tão pouco o que abala
Estes rostos há tempos muito sérios;

E pra te ter por perto
Trairei a luta e a embriaguez da alma
Que de tanto amor a dor consigo traz;

O que se passa com você?
Você não tem idéia de quem é?

Um anjo jovem que caiu na Terra:
Estrela cadente com seu brilho raro,
Um risco no céu que ninguém reparou;

Tudo o que você faz
Ganha a força de notícia urgente:
É conversa pra jogar fora
Na misteriosa arte de ser rei e plebeu;

Ah!...que bom seria
O ir embora uma mera distração:
Invente só uma verdade,
Me prenda ao chão em que você pisa;

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

E Nossos Dias Serão Para Sempre...

E você tem que andar
Tão depressa quanto quer parar:
À meia-noite meia-volta,
Esperando por quem te alcançará;

E quem viu fala de paz
Além das pedras, flores, espinhos:
Que na barca de Caronte
Navegará quem já nasce derrotado;

São os ventos de Maio
Que vão cortando nossa estrada:
Há curas é há milagres,
E há refúgio na Cidade das Luzes;

Mas por amar demais
A gente se move perigosamente:
Apenas pelo instinto de sobreviver;

Não me confie só à sorte,
Queríamos muito, não sabíamos nada:
Mil ensaios por uma breve vida inteira;

E eu sempre lembrarei
Do teu grito forte que não calará:
Perdão, é minha chance,
Ainda que seja faca de dois gumes;

E será feito nós a canção,
Toda aquela que entregue versos:
Eu hoje me sinto assim,
Um outro fim de tarde entediado;




sábado, 14 de fevereiro de 2009

Avec Tristesse

Anoiteceu,
Eu vi de novo acontecer:
Aqui estamos,
Mais nada além deste minuto;

É...Eu sei,
Que fingimos ficar bem:
Quer duvidar,
O coração bem intencionado;

Então é isso,
Só nos vale o não perder:
Vai se desfazer,
E que a gente não se arrependa;

E se tem que ir,
Nos fique tudo que há de bom:
Deixa partir – não antes de mim;

O que mais falta acontecer?
E quem é por nossas vidas?

Quem são os pares dessa dança?
Atraso os passos por causa do horário;

É tão belo,
Mas não toque em nada:
Face ao medo,
Fomos loucos e somos santos;

Amanheceu,
Deixe estar este silêncio:
Chove lá fora,
A nossa tempestade preferida;

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

O Caminho De Swan

Quem foi que disse “é o fim”?
Não...Não seria tão fácil assim:
Todos buscam seu lugar ao sol,
E do que virá o que terá melhor?

E de tudo o que se encontrar
Ainda cega o que ficou lá atrás:
É crime e castigo o que somos,
Ao se perder pelo o que fascina;

E o que é que eu faço agora?
Eu sei que você viu o paraíso,
Mas ele estava no lugar errado;

Eu vigiei todos os seus passos,
Como quem passa muito perto
...Mas nunca é notado;

E pra onde é que vão os sonhos?
Ergue os olhos, Hannah...
Ergue os olhos...

Parece que soa sempre estranho
O ter e não ser aquilo que existe;

Você era a garota sob a chuva
E naquele dia eu fiquei tão feliz
- E eu fui mais do que eu mesmo -
Eu sorri assim quase sem saber;

E desse jeito o estarmos juntos
Ou talvez algo mais do que isso
- Tempos idos vindo atrás de nós -
Nossas faltas e pecados a cobrar;

sábado, 3 de janeiro de 2009

Outro Inverno...A Mesma Estação

Olha, lá vem de novo:
Garrafas vazias no chão,
Sinais de vida que se alastra,
Como se fora a primeira vez;

Despisto a minha dor
Pra que você possa ficar,
Não me peça mais - não há
E mais uma vez saio de mim;

O que vai nos ajudar
Cruzar espessa noite fria,
Quem dirá do que é poesia
Minha história contando a tua?

E deles, eu sei quem são:
Mas de ninguém nada virá,
Se você mudou a regra do jogo;

Você quer amores, olhares,
Perfeitos...Perdidos...
Seus pensamentos não encontram;

E eu tenho meus defeitos vastos,
Mas quem é que pode parar agora?

Não há nada pra negar:
Remendos para o coração,
Aquarelas com as nossas faces,
Vamos cuidar do que foi nosso;

E eu andei bem sozinho
Só pra você tentar se achar,
E desenhei pistas nas paredes
No final de um beco sem saída;