Eu guardei pistas por aí, Figuras pintadas em pedra, Poesias em espaço imaterial: Um futuro para ti reconhecer;
E por ora já perto daqui, Se dentro do vaso na janela, Do meu casaco preto e gasto: De novo meu novo aniversário;
Com os pés rentes ao chão, De mãos dadas e mãos limpas, Olho no olho seu olhar infantil: Vi eu e você a procurar por mim;
Sem retoques a tua cor e o clarão: Então admirável novo mundo se fez À tua condição;
E recolhi meu jeito já seco do varal: Abri meu peito à força do teu vendaval; E a toda norma e forma - desobedecer E em cada face e a cada fase - sobreviver
Há um gatilho por disparar: E se passa a passo o presente É à tua constância que me atrelo E me atrevo a envelhecer em paz;
É o que trago e o que tenho: Mas que isso leve até me pese Levo como saudade não vulgar A não vogal que inicia o teu nome;
sábado, 5 de novembro de 2011
Todos Os Amanhãs... E em não pedir licença Passam em nós essa gente: Que só conhece seu quintal E já não divide com ninguém;
Quem acorda primeiro Alinha o rumo e a viagem: Porque há vida e há espinhos Também há vidas e sentidos;
E muitas vezes você disse: Vê - logo teremos muita luz E de todas as vezes que morri Queria ter perdido as memórias;
Mas foi embora de uma vez A força e o timbre da tua voz: Aqui ainda há o que surpreenda;
A mesma gente que se agita - me esclarece por favor - O que envenenou a tua opinião;
E eu que cobicei tamanha sorte - ainda nada sei - A cada passo todo perto é tão longe;
Pra que fazer de conta que passou Se é vivo e é verdade nosso embaraço E quem só tem verniz e não tem coração?
E será que temos tanto tempo assim Onde a chuva rala contorna o teu corpo E a mesma chuva esconde a minha sombra?
sábado, 15 de outubro de 2011
Chuva Na Vidraça
Porque tudo se espera É se ter alguma proteção E em cada esmola e vitória Vem sempre o mesmo crime;
E assim pesou espesso O ar com cheiro de solidão E quem nos faria tudo enfim Já não achou mais o que fazer;
Temos estas lembranças E as lembranças não nos tem Mas talvez só tenhamos errado A nossa própria lei e a sentença;
Hoje a maré subiu bem mais tarde - ondas serenas quebram ao longe - Hoje sei preciso onde é o meu lugar;
E que mais nada seja igual - não ter pra onde ir - Levanta o véu da tua tristeza;
Se fomos loucos e fomos santos - ainda somos brandos - Só por ver graça em amar de novo;
Há um quê de tão contínuo A construir um bom conselho: Esquece - foi há muito tempo atrás
Que você pense tão impossível Pois então te dou o que era meu: Descansa - põe teus pés sobre o sofá
quarta-feira, 12 de outubro de 2011
Atrás Dos Olhos
Tanto perto o tremor Que a tarde escureceu: Pra subir até o teu quarto Precisei agarrar o corrimão;
É atento teu entender Como vai desaproximar: De tempestade e terra seca Duram o que há para durar;
E se num dia qualquer Chegasse então o futuro: É ver o erro em perspectiva Ter que desfazer os porquês;
Sei - não faz sentido algum Mas - e se eu te dissesse como Bem - por onde você começaria?
E tantas vezes fiz você dormir E meu coração ao lado acordado;
E se tivera tido tédio ou temor - e de bom grado me servia – Eu me afoguei em tua correnteza;
E se assim nada mais existir Resta o pedido “nunca esquecer” Deixa o vento abrir o teu ouvido;
Então me faça forte outra vez Me mata essa fome “tão distorcida” Apaga o rastro pra eu não te seguir;
quarta-feira, 28 de setembro de 2011
Lorraine
E agora só entorno Do beijo e o abraço: Ao que te acostumava Já não tens o paradeiro;
Eu que já me perdi Sei o que você sente: Parece que tudo já viu Do que tinha pra se ver;
Era o peso do querer Que veio como ladrão: O que agora te consome É uma estrada que passei;
É a ferocidade dos dias, A voracidade do coração: Já outra semana terminou;
E que talvez importe: - Que fim levaram - As dores, flores e histórias;
Não me mudo de mim: - E mais uma vez - E só por hoje eu te traduzi;
E ao sair de casa à calçada Você olha pra todos os lados: Sinto muito não ser da tua rua;
Mas pra chamar tua atenção De tanta pressa em ir embora: Era minha a pedra na tua janela;
quarta-feira, 17 de agosto de 2011
Pele
Eis nosso esse esboço
A gosto e exposto certo:
Vou chegar em casa tarde
Ou você vai chegar na frente;
E num dia nada quente
Andando no meio da rua:
Abalroada minha pretensão
De ser alguém pra te conduzir;
Minha voz à rouquidão
E havia fogo no teu olhar:
E o que não decidi por mim
Decido foi por si sem o cortejar;
Quase tão difícil é discernir:
Sempre faço carbono do tempo
Depois de tantos afetos perdidos;
Às vezes...
Sorrisos findos não se apagam:
Ah! Não fui eu quem quis assim;
E no entanto na TV se expressa
A nostalgia de uma vida renegada,
Uma vida envolvida em si mesma;
É a ética das emoções
E de resto não observada:
É porque eu sinto todo o efeito
Feito o peito oprimido de alegria;
E se carinho ou se açoite
Ao menos isso tem sentido:
Quando tudo parece estar em paz
Se aproximam os últimos carnavais;
quinta-feira, 14 de julho de 2011
40
É do que se quer E o que vier no fim: Se alívio ou esperança, Se destinos ou destroços;
De quem vai ficar A quem pode sumir: O eu te amo pra sempre, Um ligeiro aperto de mão;
E pra te ver passar Estendi o meu tapete: De folhas secas de outono, De amarelo e cinza colorido;
E me assustei: Dissolvi o mundo Bem à minha maneira;
E até pode ser que o errado Possa mesmo ter funcionado;
E agora - o que importa Ou quem sabe até me vença Este tempo amigo tão paralisado;
Espero - e que você sorrisse Não preciso mais me despedir Como uma poça d’água sob o sol;
sábado, 25 de junho de 2011
Genebra
Do que se leva por suave Volta uma justa proporção: O que você não devia deixar, O que eu não deveria guardar;
Mas vidas são passageiras E haverá sempre um motivo: Talvez teu nome bem grifado, Ou um recado escrito rasurado;
Se não nos foi indiferente Não há mesmo como evitar: Eu penso no que está por vir, Me esqueço que você não veio;
Parece que não há mais lugar: Eu me dou conta de quem sou, Eu acho até que me feri sozinho;
Mas - acorda - é a saga e a sina O que nos ensina essa desordem?
Um alguém - um espelho humano Quem nos pode ter para nos perder?
E se você chegasse a tempo Por um segundo eu ficaria feliz: Mas este é só o fim de uma espera Antes que uma outra então comece;
Eu te reconheço feito inverno Pois viemos de dias tão remotos: E aqui entre o mar e o oitavo andar Crescem anjos de pedra pelo jardim;
domingo, 12 de junho de 2011
O Que Você Vai Ser Quando Você Crescer...
Um coração - arrancado aos pedaços - A permissão antes da ilusão? Algo que se negará três vezes?
A casa cheia - uma imperfeita simetria - Por que tudo está tão quieto? Onde te levaram tais palavras?
Amanheceu - e agora essa luz tão clara - Você escutou o despertador? O que é que há de mal nisso?
Todos os dias são...
Tão pequenos improvisos: E pro teu mais profundo eu Uma coleção de coincidências;
E sempre alguém procura por ti Eu também vi - as coisas vão além
E viramos dois - ombro no ombro O amor em um brusco movimento;
Bem eu sei o que acontece Quando se espia senhor estrago: E talvez não corramos mais perigo;
Mas será que você pode acudir Ao que irá se fazer nossa morada: A vida é o melhor lugar pra se viver;
quinta-feira, 21 de abril de 2011
Song For Suzanne
Ah!...Se eu soubesse Quanto custa entender: Que se pode mesmo rir Tanto quanto se adoecer;
E o tempo se retrairá Ao nosso melhor plano: Do que se quer acreditar Ter paisagem ou fronteira;
E não cegar tua visão É tirar melhor proveito: Até aqui e do que fomos Foi onde deu para chegar;
É o que de nós constará: É a velha ótica da história E uma canção desesperada;
Em folhas soltas de caderno - Que deixei - Eu construí um barco de papel
E do que lembrei - O mais fiel aos teus traços -
E se há culpa ou se há tormento É porque não cremos nisso antes: Agora lá fora o mesmo sol levanta;
Ainda há um por que de se voltar E te participo não estarmos prontos: Disparo e paro ao meio do caminho;
quarta-feira, 2 de março de 2011
Tribunal Das Ruas
Agora sou tua contramão,
Pessoas a esmo pela cidade:
Não posso ler o que pensam
De todas as nossas incertezas;
Meu suor e pés descalços,
Corro aos riscos que herdei:
Parece que há um surdo eco
De você a rasgar meu ouvido;
É o que há dentro de mim,
A realidade é uma filha nua:
De tudo que é fúria e desejos
Não vingará farsa ou disfarce;
E a felicidade não é bondade:
Logo - posso esperar seja você
Quem primeiro vai se reerguer;
Vem um toque de descontrole
Por causa da nossa impaciência;
Há um fim de tarde amarelado
Pelas alamedas do meu coração;
Acreditamos em céu e inferno
E que talvez nada irá acontecer:
É por isso que nos doma a vontade;
Mas ficará impresso na tua pele
O rastro esguio de que fomos dois:
Eu insisto que não minto sobre isso;
terça-feira, 15 de fevereiro de 2011
Kilimanjaro
É sempre uma surpresa E de você assim se atreve: O abraço forte que protege, Branca neve à primeira vista;
Era o caminho e a visão Que tampouco havia tido: O erro em graça convertido, Uma noite em claro redigida;
E pra falar o que eu senti Fiz roubo as tuas invenções: Um alfabeto de letras a mais, A lembrança que seja indolor;
O teu amor chegou - eu ri Com os sapatos tão polidos: Colando minha alma na vida, Tão equilibrado e por um triz;
Aqui é topo de nosso mundo Aqui - veja - ninguém à procura
É até onde resista nosso fôlego Então - me explique como estou
Vamos sumir antes que o fim: Carreguemos este sol diferente Meio estampado em face a face;
Mas eu acho que não pode ser: Algumas coisas são mais bonitas Não tocadas ou deixadas pra trás;
terça-feira, 8 de fevereiro de 2011
A Cura
Tão longe e tão perto, Eis aqui o teu endereço: Apaga a luz do teu quarto Só pra ter o mais e o mesmo;
A beleza crua do nascer, O que de ti furta um olhar: Uma praia de areias brancas E uma lágrima que cristalizou;
Tive medo e posso andar, Sei lá do que os outros são: Eu sou o mesmo sem querer E a qualquer distância de você;
A carvão risquei rascunhos E fiz em teu retrato no cartaz A ilusão que quis equivocar-se;
E o tanto mais alto que se foi Antes de a gravidade nos puxar;
Escuta - já que tudo vi passar Também isso tudo passa - depois
Todos têm seus segredos e sinas: Mas é que tem essa saudade insone Que força nossa engrenagem girar;
E bem me quis você pra entender: Mas se o chão vier se abrir desculpe Se por um acaso eu fechar os olhos;
terça-feira, 25 de janeiro de 2011
Paris, 1944
Ah! A quem acreditar É outro Agosto reposto: Beber de novo água pura Que o dano real já passou;
A tarde cinza anunciou Uma nova voz para guiar: Quando o amor é um temor A quem entrega a sua alma;
É tão humano ao partir Não querer se machucar: E vai liberta nesta multidão Que faz nossa cabeça rodar;
A alguns corações a salvo E lá se vão nossos instintos E mil voltas a um recomeço;
Deixa...pra lá Só me estenda a mão: Mais uma guerra acabou;
E o agora... São boas e más memórias Que o futuro tem;
Eu já disse a Deus - perdão Mas eu sinto pelo que se viu: O mundo um grande tumulto;
E você disse - ficaremos bem Mas eu acho que saí andando: Fui lutar longe de mim mesmo;
sábado, 22 de janeiro de 2011
A Casa Abandonada
Não há mais ninguém Tão igual ao teu protesto: E pessoas de contos de fada Vão fazer de conta que o são;
Quantos anjos já caíram A traficar sãos sentimentos: Este meu coração sob chamas É meu exílio e meu purgatório;
E no peito outra frequência Mas e o que temos dessa vez? Vai ver é a dor que se escondeu Ao ver tinta nova nestas paredes;
Vai ver...
A calmaria atingiu o temporal A dublar minhas roucas palavras Ou o beijo que dera à morte vida;
E no teu apartamento - comunhão Não prestei atenção - mal li o roteiro
Acontecimentos, alegrias - insolação Cada dia e sua razão - hoje sei por quê
A semana toda ficou para trás Como uma prece não decorada E destoa à toa a minha obsessão;
Pensei em você o tempo inteiro Como uma linha reta não traçada Que navega cega em minha solidão;