Nunca estamos preparados: Quem chega diz “muito prazer” E o que nos rende só nos rouba De quem um dia nos trouxe aqui;
Minha alegria é descuidada: De quem resolve o “vou partir” Se espera uma história a contar E que não acabe ainda que mude;
E muitos sentem a densa falta: Ela sorri tão alta sobre os saltos, Mas não anda mais a pé nas ruas;
Como vai indo tua nova profissão, Quem são os convidados pro jantar?
O que vem depois do último andar, E o que aconteceria se você pulasse?
No céu de Ícaro tem brancas nuvens, Mas lá embaixo as ondas ainda lutam, Entregam-se à vida contra os rochedos;
Ter sobrevivido às promessas É já não temer a própria morte: É como caminhar sobre as águas Onde ninguém se arriscaria afogar;
É que nem todos enxergarão Se daquele amar ficou o amor: Isso é que nos faz a peça ausente De um quebra-cabeça remontado;
quinta-feira, 14 de maio de 2009
La Folie (Valérye)
Quando foi que aconteceu? Somos os amantes de outrora Hoje adultos criados do tempo: E parece que tudo fica mais calmo Tendo o ego preso entre os dentes;
Tentar juntar as pontas soltas Depois que aqui acabou a festa, Coisas que a nós julgam impossíveis: Uma vela a queimar com o vendaval;
Seria só mais um “deixa pra lá” Mas eu sei bem como você se sente, E no rádio a canção meio esquecida;
Seria um último “é pra sempre” Mas você não entende quem eu sou: Um Dom Quixote que se vê cansado;
Me diga por favor - estávamos juntos Como pôde ser bastante o ser preciso Apenas naquele instante?
É pra chamar nossa atenção Se a terra treme aos nossos pés, Algo tinha que ser dito e ser feito: Pense no que de cada um a ti ficou Como a moda que não tem estação;
Mas se ainda assim há um vazio Que a nosso lado cavalga devagar, Não nos trave uma nova expressão Apontando na cara de nossos filhos;
sábado, 9 de maio de 2009
Valsa De Istambul
É sempre quase o mesmo Estes arroubos de gente jovem: Risos, abraços, em qualquer parte, E leves almas dançam enfeitiçadas;
Andamos de braços dados Pra um espaço desconhecido: Estrangeiros, e que ninguém nota, Em um mundo de presas e pressa;
E tudo vai ficando cinza E na rua o choque nas pessoas, Quando alguém precisa nos tocar Apenas pra que nos sintamos vivos;
Às vezes é tão assustador, Mas é solidão de quem se obriga A varrer do corpo o pó dos séculos;
Leve-me de volta e leve-me agora - Leve-me embora - Pra nossa velha Terra-Do-Nunca;
Foi de lá que escapou este homem - Veio de lá - O pobre homem e a criança em si;
Não fomos feitos pra durar Além do que poderíamos supor, E nos ferimos à estranha necessidade De se perder nas fronteiras do coração;
Então era mesmo pra valer Quando sujamos as nossas mãos, E se de nós não ecoar o que se falou Estes retratos mudos têm mil palavras;