quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Melissa

Não por maldade
Mais uma convulsão:
O presente de repente
Que não se pode adiar;

Havia um “não sei”
Era só a impaciência:
Eu ficaria até amanhã,
Eu curaria os teus pulsos;

E morreria por você,
É nenhuma violência:
E se a mim teus medos,
Faria engenho e escravos;

E que esta intensidade
Seja um jeito todo meu
Mas também a insurreição;

Te vi sombra - água fresca
Eu aqueci todo meu abraço;

Desfaço todo meu cansaço:
Deixa amanhecer - dessa vez

E se foi - parte daqui
Como quase um suspiro
Que escapa à condenação;

Eu vi você - passou aqui
Mas hoje eu sou meridiano
Que você já não encontraria;

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Saltimbancos

Mas aqui paramos
Pois alguém semeia
A este baldio terreno
A falsa dor e firme graça;

Já nem sei as horas
E corre a gargalhada:
O meio gesto e o aceno
Ao que se possa parecer;

E qual divina comédia
É justo que reconheças
O drama de nós mesmos;

Nem cortina ou ribalta:
Mais uma vez em cartaz
A ópera bufa das vaidades;

Espectador e expectativa:
Quando a nós será aplauso?

Que um dia possamos ter

Dois corações disciplinados;

Por vezes parece o irreal
- A cada um a sua miséria -
E o piscar de olhos bastaria:

Em todo canto as alegrias
Daqueles que abusam crer
Que até a tola vida é arte sua;

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Finis Africae

Exaustos e ausentes,
E agora da diferença
Já não é o que fomos:
Tão nobres ou vulgares;

Dez crimes e castigo
- Sei não posso resistir -
Mas todo temor atroz
Vira quase Idade Média;

E se resta Inquisição,
Por ti deixo que arda
O impulso e a elevação,
Até mesmo uma verdade:

De ti lavro tal saudade
Pra reler dentro de mim
Quem assim nos repetisse;

Não lastimo o que senti
E tem ainda esta desordem:

Nem culpados nem isentos,
Quem roubou nossa partilha?

É errar por si o outro
O que cega essa gente:
É de crença e conceitos
Que nos pregam a moral;

Esqueças o não fraterno:
Só a nossa própria história
É prefácio do bem e do mal;

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Jerusalém

Perdi toda coragem,

Perdi trinta dinheiros:
E eu já nem sei se o fui
Ou profeta ou apóstolo;

E o que era o prodígio
Agora me tem escasso:
Teu rico lábio redentor;

Que à margem da vida
Não me tinha alcançado;

E toda essa felicidade
Então me era anarquia:
O deleite raso do querer;

Algo fácil de se quebrar
Como estátuas de isopor;

Era de tinta e papiro
O teu recado sublinhado:
Espera...

Melhor assim - um dia
Faremos nossa civilização;

E estamos resfriados:
Quanto falta do que fazer
Pra se cuidar desta doença?

Foi o nosso auto de fé:
Quase um sacro desespero
Por não sermos desonestos;

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Nuvem

Ah! - Despedidas:
Era lava e o vulcão
Se não mais achavas
A origem do teu ideal?

O mesmo de volta:
É força que resgata
O animal extraviado
Quase próximo do fim;

E é maré e rotação,
É a sina de toda raça
O flerte dito um punhal;

Eis a ironia dos acasos
Virando nossa ampulheta;

E toda essa melancolia é
Só fuligem em meu sangue;

No céu do sol,
Também o céu da boca:
Ver desenhos claro-escuros;

É fantasia a que se apega:
Quando há a possibilidade
Ter algodão já não tão doce;

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

E No Entanto, Se Move...

E se aproximar,
É manter a calma:
É ciência ou espírito
Nova segunda chance?

Mal me agarrei,
Agosto ainda frio:
É o terceiro mistério
Tempo hoje restituído?

E o que verteu
Veio de tua aura:
A forma e conteúdo
De todo indócil amor;

E veio de tua alma
E da primeira vogal
A que leio o teu nome;

E o que ganhei
Do que você perdeu?

Mas quem perdeu
Se você então ganhou?

É a renascentista paz
Toda música e luz e cor
Sobre a escuridão;

E também autorretrato
Se as lembranças chamam
Pra um outro lugar;