sábado, 26 de junho de 2010

Personagem

A noite está fria,
Sinto a mão dos ventos por meus cabelos.
Os olhos da lua refletindo nos meus.
Fico parada em um transe profundo, causado pela magia da escuridão;
Não posso chamar de trevas, nem dizer que estou com medo.
A única presença que sinto é de uma paz imensa,
Que me toma da rotação mórbida do mundo.
Que me chama para o abstrato, que me leva para o invisível
Por uma ponte que liga esses dois mundos:

O perfeito e o meu.

Se queremos mais por que não fazemos,

Pois temos mãos?
Se estamos insatisfeitos por que não mudamos,

Pois temos livre arbítrio?

Seria porque fazer a mudança exige mais de uma pessoa?
Ou seria porque não somos capazes de mudar?

Chegou a hora, eu cansei.
Finalmente olho para trás, olho o que eu fiz.

Junto tudo em uma porção,
E vejo que essa é - essa foi - a vidinha miserável que levei por muito tempo.
A vida que os outros admiram e,
Que hoje, eu repudio.

Porque gastei minhas forças, conseguindo tudo isso;
Agora que tenho, já sem forças, não posso desfrutar de seus prazeres materiais,
Se é que ainda posso falar essa palavra.

Me recupero do transe, não por completo
Pois não sei se um dia conseguirei isso.

Sento no chão, sinto o sereno e o orvalho

a consolarem-me,
Acomodando minhas costas cansadas.
Meus olhos, cobertos pelas pálpebras caídas.

Minhas mãos,
Mapa de minha própria vida.
Meus cabelos, agora já grisalhos.

Traços do tempo, marcados em uma pessoa.

Quando chegamos a esse ponto
Realmente nos perguntamos:

VALEU A PENA?

Ou vale mesmo é o que estou sentindo agora?

Passei anos tentando comprar a felicidade,
E hoje a descubro nas coisas mais simples.
Coisas que por mim passaram várias vezes e,
Eu não notei.

Não notei que a felicidade me acenava.
E hoje,
Tento contar minha vida a ela.
E ela marca hora.


Poema escrito por Vanessa Abreu Oliveira, uma alma repleta de luz, em 03/10/2006.
Descoberto num desses acasos da vida.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

O Carrossel

E às vezes é nada fácil
Porém um dia irá passar:
O ter mais do que é preciso,
Gente feita de dores e apatia;

E há quem nos julgará
O que a paixão sangrou:
O que é aguardo e surpresa,
A bruta razão e sensibilidade;

Medimos forças à toa,
Eu adentrei a casa forte:
É o mesmo lugar de sempre,
Eu ainda sei o que vim buscar;

Seria o que você quisesse:
Não me censure o que tentas
Se me adivinhas em ti mesma;

Este teu amor que aterrissou
É flor-de-liz em terras ardentes;

E já depois de tantas rendições
É teu ventre e berço e recomeço;

Eu me achava tão articulado
Mas me tenta ainda enxergar
A boa semente em um adeus:
Hoje já se foi amanhã já é vem;

E você esteve tecendo ideias
Tão próprias diante dos fatos
Num caderno de recordações:
Sonhos de uma noite de verão;

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Crepúsculo

E tão pequenos erros
E pra se lembrar depois:
Não acreditar no ser capaz,
Um coração por teu vizinho;

É o não estar-se pronto
Que nos vai acontecendo:
De pedra a flor e o espinho,
Cai também nossos domínios;

Porém não se desespere,
Pense em todo teu esforço:
Esse desejo será nossa justiça,
Alguma coisa pra nos confortar;

E dia e noite por noites e dias:
Uma parte é minha nova velhice,
Outra o que os anos não levaram;

E você não viu o sol - ter se posto
E o lado oposto - é o que nos resta

E creio não há morte - voltaremos
Descanse em paz - até a próxima vez

Somos filhos de outras eras:
Dois anjos tortos fugidos de casa,
Dois anjos retomados à eternidade;

E até onde eu esperaria você:
Um telefonema às três da manhã,
Um encontro certo meio ao acaso;

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Carnaval

Saímos em disparada
E nem temos pra onde ir:
Não estaremos em segurança
Se o passado não vela seu lugar;

E do que logo se retira
Respingos em nossas mãos:
Nosso velho catálogo ilustrado
Que sempre é “eu gosto de você”

Era uma possibilidade
Ter andor, passeios e avião:
Quando é que vamos entender
A velocidade do pêndulo da vida?

Abre os olhos e o que nos apanha:
É o sentir que todos os sonhos vêm
Ao contrário de como a gente os tem?

Mas que então se faça troca e troça:
De todo “mal” aquilo que é “insisto”
E já não nos serve mais

É o que nos possa envolver
E não é nada que me contorne:
Eu já colecionei alguns percalços;


E das histórias que se contar
Que seja algo que nos justifique:
Por aqui deixamos nossas digitais;